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Sem trabalho, sem renda, sem casa – o aumento da população de rua no Brasil

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pessoas em situação de rua sao paulo
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O último levantamento do IPEA, há quase dois anos (março de 2020), estimou que o número total de pessoas em situação de rua no Brasil era de aproximadamente 221.869 pessoas. E mais: cerca de 30% dessas pessoas não estavam incluídas no CadÚnico. Hoje há uma sensação de que esse número é crescente, embora não haja um levantamento nacional.

O censo antecipado municipal de São Paulo pode dar uma medida do quanto essa situação de desamparo vem aumentando. Em 2012, o censo apontava cerca de 14 mil pessoas morando nas ruas da capital paulista. Em 2015, cerca de 16 mil. No censo de 2019, 24.344 pessoas moravam nas ruas de São Paulo. No final de 2021, esse número passou para 31.884 pessoas, um aumento de 31% em dois anos.

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Essa notícia repercutiu na mídia como mais uma decorrência da pandemia. No entanto, se olharmos entre 2015 e 2019, vemos um aumento de 50% do número de pessoas em situação de rua. A pandemia não acelerou esse processo na proporção em que a mídia e a prefeitura paulistana tentam nos mostrar. E São Paulo pode dar uma ideia de como a situação se encontra nos grandes centros brasileiros.

Em outubro do ano passado, a Central de Movimentos Populares organizou a Jornada Nacional de Luta por Moradia, com uma passeata pela Esplanada dos Ministérios, com manifestações em frente ao Ministério de Desenvolvimento Regional. Ouviu a arenga da falta de recursos por causa da pandemia. Mas a avaliação do movimento sobre o caos habitacional passou longe do vírus. Responsabilizou o fim do programa Minha Casa, Minha Vida, o aumento da fome e do desemprego. A Covid entrou em outro cálculo: mesmo com a crise de emprego e a pandemia, mais de 93 mil famílias estavam ameaçadas de despejo nesta situação.

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A pandemia pode ainda entrar em outra conta para a população de rua. Em meio aos apagões estatísticos em que vivemos, retornamos mais uma vez a números oficiais de São Paulo. A prefeitura afirma que apenas 49 pessoas em situação de rua morreram de Covid durante a pandemia (que não acabou). De acordo com o Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade) e a Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama, ambos da USP, esse número é irreal.

Segundo formulários de notificação de doenças respiratórias entre março de 2020 a maio de 2021, foram ao menos 96 mortes. Cruzando diversos dados de centros de acolhida, situação de rua, abrigos, os pesquisadores calculam que a conta pode chegar a 395 óbitos. É um caso em que a invisibilidade soma-se à subnotificação. Ao final, impera o desprezo.

Como avaliou recentemente Pe. Julio Lancellotti, “o pensamento econômico ainda é muito forte. A primazia do capital é muito grande, e o desprezo pela vida do outro é muito forte”.