Alexandre Silva Marques, auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), reafirmou hoje (17) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado que o documento elaborado por ele foi adulterado antes de ser mencionado por Jair Bolsonaro.
"Vincular o nome do Tribunal de Contas da União a um texto de duas páginas foi irresponsável', disse ele aos senadores.
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O auditor foi o autor de um relatório que indicava que metade das mortes cuja causa apontada em 2020 foi covid-19 não estaria relacionadas à doença, ainda que não tenha apresentado nenhuma prova disso. Marques afirmou que encaminhou um documento de texto preliminar somente ao seu pai, e que este o encaminhou da mesma forma a Bolsonaro.
Marques não indicou quem poderia ter adulterado o documento.
Em seu relato à CPI, Marques sustentou que a iniciativa buscava apenas "começar a provocar a discussão" em relação à possibilidade de que houvesse uma "super-notificação" de mortes que resultaria em uma distribuição irregular e não proporcional de verbas federais a estados e municípios.
"Era um debate preliminar que foi encerrado [dentro do TCU]", disse.
O relatório de Marques foi redigido, segundo ele mesmo, em 31 de maio. Bolsonaro mencionou o documento, como sendo do próprio TCU, alguns dias depois. O Tribunal rápida e publicamente desmentiu o presidente.
Marques afirmou ao próprio TCU que enviou um "rascunho" ao seu pai, e que o documento foi adulterado. O símbolo do Tribunal, por exemplo, não constaria no documento que ele elaborou. O auditor, que está afastado e respondendo a processo administrativo, afirmou ao órgão ao qual é ligado que a divulgação feita por Bolsonaro foi uma "total irresponsabilidade".
“Quando eu vi o pronunciamento do presidente Bolsonaro, fiquei totalmente indignado, porque achei de total irresponsabilidade o mandatário da nação sair falando que o Tribunal tinha um relatório publicado em que mais da metade das mortes por Covid não era por Covid. Eu achei uma afronta a tudo que a gente sabe que acontece", relatou ao TCU.
O pai do auditor é o coronel da reserva Ricardo Silva Marques, que foi colega de turma de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras. Por indicação do presidente, o coronel assumiu uma gerência na Petrobras.