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Relatório internacional mostra o papel do Estado na diminuição da crise climática

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mudanças climáticas

De acordo com o relatório "The New Economics of Innovation and Transition: Evaluating Opportunities and Risks", produzido por cientistas de 15 universidades de diversos países do mundo, os governos devem intervir para moldar os mercados para novas tecnologias de energias limpas. O documento ainda afirma que essa intervenção seria capaz de impulsionar mudanças para cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris e promover o crescimento econômico.

No Brasil, os pequisadores Marcelo Carvalho Pereira e José Maria da Silveira, integrantes do Núcleo de Economia Agrícola e do Meio Ambiente (NEA+/IE-Unicamp) participaram da construção do relatório, que foi lançado durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), que terminou no dia 13 deste mês. Durante o encontro, representantes de cerca de 200 países debateram como os governos do munto todo podem agir coletivamente para diminuir a intensidade das mudanças climáticas produzidas pela humanidade no último século.

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Conforme aponta o estudo, os Estados têm o poder de direcionar e investir recursos nas tecnologias limpas e com isso, reduzir custos econômicos e ambintais. Entretando, o papel do Estado não é só esse, mas também o de "moldar o mercado" para buscar o mesmo objetivo. Como exemplo prático, o relatório aponta o caso da iluminação com LED, que diminui custos financeiros e ambientais e hoje é amplamente utilizada em diversos setores de todas as nações. Segundo os cientistas, esse pode ser um caso de sucesso a ser replicado para outras tecnologias de baixo carbono, como os carros elétricos.

A política deve orientar o modelo econômico

O apoio político à agenda tecnologia limpa é crucial para que o desenvolvimento científico e a adoção dessa tecnologia aconteça. Isso contece porque o apoio governamental, "desbloqueia mais investimentos do setor privado" para a área. Assim, com a produção em escala, a redução dos custos ocorre. Além disso, o apoio político pode gerar acordos de cooperação internacional, necessários ao desenvolvimento das tecnologias e à masificação de seu uso.

A recomendação baseia-se novamente tanto na indústria do LED, quanto nas indústrias de produção de energia eólica e solar, e traz um dado importante: "As políticas de modelagem de mercado são pelo menos tão importantes quanto a P&D (pesquisa e desenvolvimento) para acelerar a inovação".

Ulka Kelkar, diretora do programa climático do WRI Índia, afirmou: "Para países em desenvolvimento como a Índia, os custos iniciais de capital podem tornar as novas tecnologias inacessíveis, mesmo que seus eventuais benefícios superem o investimento inicial. Mas vimos tecnologias como energia solar e iluminação LED ficarem rapidamente mais baratas, e podemos ver o mesmo com baterias, EVs e eletrolisadores de hidrogênio. Com investimentos iniciais e políticas sólidas, podemos nos beneficiar dos avanços nas tecnologias de baixo carbono e evitar mudanças caras no futuro."

Os números da futura economia de baixo carbono

Cerca de 75% do PIB global deverá se transformar para deixar de produzir compostos de carbono que produzem o efeito estufa e, por consequência, pioram o aquecimento global. Com isso, o relatório aponta que serão necessários investimentos em diversos setores da economia, que poderiam sustentar 65 milhões de empregos e gerar US$ 26 trilhões em benefícios até 2030.

Segundo Michael Grubb, professor de Energia e Mudanças Climáticas da University College de Londres e co-autor do relatório, "As políticas que levaram a grandes avanços em tecnologias de baixo carbono, como eólica e solar, foram desafiadas por conselhos econômicos tradicionais, que foram ignorados o papel da inovação, enquadrando a política climática como onerosa. Precisamos aprender com esses sucessos que entregar ‘zero líquido’ exigirá uma compreensão econômica mais sofisticada de inovação e transição, mais amplamente aplicada".

Por que a questão energética orientou esse estudo?

Conforme o relatório, a transição para energia limpa em países como Brasil, China e Índia tiveram um sucesso bastante relevante e se deram por causa do apoio político, mesmo quando seus custos eram mais altos que a geração de energia pelos métodos tradicionais. E cita grandes resultados:

  • "Desde 2010, a energia eólica passou fornecer de menos de 1% para 10% da eletricidade no Brasil; 15% na Europa e 24% no Reino Unido. Os custos despencaram; a energia eólica onshore é agora menos cara do que os combustíveis fósseis e a energia eólica offshore - antes vista como impossivelmente complexa e cara - está cada vez mais competitiva com as alternativas de combustível fóssil.
  • Solar PV - descrito como “a forma mais cara de reduzir as emissões de carbono” até 2014 - se expandiu para níveis semelhantes globalmente, à medida que os custos despencaram 85% na última década, para se tornar competitivo com alternativas de combustíveis fósseis. Só na China, a energia solar cresceu de apenas 0,3 gigawatts de geração em 2008 para 253 gigawatts em 2020.
  • A iluminação LED de baixo consumo na Índia viu os preços caírem mais de 90% desde 2010, passando da tecnologia mais cara para a mais barata em oferta".

O relatório completo pode ser acessado (em inglês) clicando aqui.

Com informações do Instituto de Economia da Unicamp.