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O IDH ganhou um “P”, por Renato Janine Ribeiro

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Imagem do site Recontaai.com.br

Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação e professor de Ética da FFLCH-USP, fala sobre mudanças no Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH.

Uma das notícias mais importantes desta semana passou quase desapercebida: o Índice de Desenvolvimento Humano, a medida mais séria para avaliar o nível de vida das pessoas, recebeu um acréscimo, um “P”, que começa a levar em conta o impacto ambiental em cada sociedade.

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O IDH foi criado nos anos 1990 para substituir o PIB per capita como medida de qualidade de vida. O PIB mede apenas a riqueza. O IDH une renda (sucessora do PIB), educação e saúde. Um dia eu detalharei isso. Ou seja, se um País tem apenas riqueza, mas ela não beneficia o povo em anos de escolaridade e em expectativa de vida, isso vale pouco.

Ora, com a inclusão do impacto ambiental, a Noruega despencou! Ela era o País líder do IDH. Mas seu bem-estar social depende da riqueza do petróleo que ela explora no mar – o que exporta, ou terceiriza, danos ambientais. Então, com o “P”, a Noruega caiu 15 posições. Foi do 1º lugar para o 16º.

Como diz Pedro Fernando Nery, no Estadão, “o novo IDH expõe de forma clara uma certa hipocrisia que já era criticada. Sobre a convivência da agenda verde dos noruegueses com a venda de petróleo de suas gigantescas reservas para o resto do mundo, o jornalista Michael Booth comparou a Noruega ao “traficante de drogas que não usa seus produtos”.

Mas talvez o pior caso seja o dos EUA. Eles estavam em 17º no IDH, mas caíram 45 posições no IDHP. Com todas as palavras: caíram para o 62º lugar.
“P” quer dizer “Ajustado às Pressões Planetárias”. Considera o efeito estufa e a destruição de recursos ambientais que o País efetua.

O Brasil subiu dez lugares: chegou a 74º. Sem dúvida, é uma boa notícia. Continuamos mal na foto, mas ela foi corrigida. E estávamos 57 posições abaixo dos EUA, agora estamos apenas 12, o que muda bem as coisas.
É claro que em termos de conforto o velho IDH continua expressando uma larga distância entre nós e os EUA.

Mas, em termos de economia sustentável, o IDHP é mais veraz. E, com Biden retomando os compromissos ambientais de seu país, os EUA precisarão ajustar seu uso da natureza, que é um dos mais predatórios no planeta.

Um governo sensato festejaria a notícia. Diria que o retrato mais acurado que o IDHP traz mostra que o Brasil contribui para reduzir os danos ambientais. É um argumento forte para cobrarmos pela Floresta Amazônica, isto é, se o governo a defender de verdade. Mas como faria isso o atual governo, se não se empenha na questão do ambiente?

Agora, vale a pena você dar uma busca na Internet sobre o IDHP. E outra sugestão: olhe na Wikipédia as cidades brasileiras que lhe interessam – onde você nasceu, onde vive, outras a sua escolha. Verá que todas elas trazem a informação do IDH (ainda sem o P, claro, porque ele é coisa muito recente!). E verá qual a qualidade de vida do município.

Aliás, seria muito bom levantar essas questões nas campanhas eleitorais. E, no dia em que houver uma Lei de Responsabilidade Social, o que eu defendo faz tempo, um item deveria ser: o prefeito, o governador, o presidente melhorou o IDHP? Se não melhorou, e se não der boas razões, merece não ser reeleito e, talvez, até ser sancionado legalmente. A ver.

Renato Janine Ribeiro foi ministro da Educação em 2015; é professor-titular da cadeira de Ética e Filosofia política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e escritor.

Atualmente, compartilha seus textos sobre bastidores da política nos seus canais de Whatsapp e Telegram.

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