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O Clamor pelo Golpe – a agonia de um governo sem lastro

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Basta um soldado e um cabo. Deus acima de tudo. Vamos metralhar. Não te estupro porque é feia. Urnas eletrônicas fraudulentas. Minha especialidade é matar. Quem toma vacina contrai HIV. Só Deus me tira daqui. Pela memória do Coronel Ustra. Surdos de toga.

Balbucios desconexos. As falas do presidente parecem saídas de O Som e a Fúria, de Faulkner, variando entre Benjy e Jason Compton. Arroubos simiescos e discurso de ódio entrelaçados. Mas legitimados. Não só por votos, cargos, instituições e fardas. Noticiários, análises políticas e comentários abalizados normalizaram um troglodita e seu porrete regendo a orquestra. Agora seus financiadores decidem que não suportam mais a performance. A plateia reduziu-se a poucos fiéis. Armados até os dentes, mas poucos, que ainda insistem em cantar Ele é de Deus, pode confiar.

Só restou o apelo ao golpe. Patético, na convenção de arquibancadas vazias, pediu a caricaturas cruéis de uma classe média que sobrevive do ódio e do ressentimento, trajando as cores de quem tem a bandeira em nosso coração, que saíssem às ruas uma última vez para defender “o Brasil e a liberdade”.

O capitão de Deus não chegará ao final da campanha. E deixa isso claro a todos. Mas não é notícia. Ninguém em sã consciência imagina que ele vá até o fim de um pleito que irá perder. Que irá respeitar os ritos de um processo que não só despreza, mas contra o qual foi formado. Todos sabem, mas isso não é notícia. Antes ele representava o mercado, o privatismo, o agronegócio, o entreguismo de nossas elites e militares. Agora só representa o golpe e a ditadura. Todos sabem, mas não estampam e nem mesmo sussurram em chamadas dos noticiários.

Agora ele foi aconselhado a prometer a extensão do auxílio, torná-lo contínuo. Pouco importa se é verdade, é mais uma tentativa de reverter sua rejeição. Pouco importa se ele jamais quis, se teve três anos para isso. A mídia que o critica pela promessa só aponta o rombo no teto de gastos e rotula como populismo, no intento de macular qualquer programa de distribuição de renda. Ao mesmo tempo, o candidato, em performances guturais, conclama quem está ao seu lado para um ato de força.

Nos mesmos dias em que Lula relembrava, em sua terra natal, com emoção e dignidade, sua trajetória tão brasileira – retomando as suas e as nossas origens, sem alarde dos noticiários mais tradicionais da televisão – ficamos sabendo (isso é notícia) das encenações agônicas de quem perdeu o poder. A Marcha para Jesus nos brindou com uma procissão pelas armas e pela morte. pastores e policiais militares ressuscitam a arenga anticomunista, destaques dados a discursos de gente bem que rescendem a bolor. Quem não teve a malandragem de cair fora antes e repaginar-se com fumos de democracia, oportunistas ou não, acirra os sermões morais sobre costumes. Uma pregação ao vento. O final da linha, o precipício, o vazio, surge cada vez mais próximo.

A situação não falada e não noticiada é a seguinte: sem golpe de força, sem o capitão. O atual candidato a reeleição não enfrentará uma eleição sem a supressão do nome de Lula das cédulas. Sua única esperança é tentar unir os seus medos pessoais e familiares (inquéritos, futuras penalidades e prisão) ao antipetismo raivoso e aos temores de quem se locupleta com a primazia do mercado. Mas estes últimos, detentores do verdadeiro poder, só esperam o final. Como se dará sua saída – antes, durante ou logo após o jogo – é o que não sabemos.

Não temos outras armas. No dia 16 de agosto, primeiro dia oficial da campanha, quem está ao lado da reconstrução do Estado, da afirmação de instituições democráticas, de mudanças prementes e estruturais, do combate à fome e à desigualdade crescente, da geração de emprego e renda, enfim, de uma sociedade mais justa da qual chegamos a ter um breve gosto, terá que afirmar seu voto. Nas ruas, mas casas, no trabalho, nas escolas, nas filas do mercado e nos pontos de ônibus. Chegamos ao ponto em que qualquer desejo de alternativas construídas pelo golpe é só um prolongamento do mesmo. A afirmação pública de se nome é uma estratégia de resistência, assim como a rejeição de vias e soluções artificiais e construídas em conluios entre os donos do poder e a mídia. Lula é o único candidato que sempre teve contra si a surdez das togas, a mudez da mídia e a cegueira da elite nacional. Por isso hoje é a única alternativa popular de reconstrução deste País.