Em 2018, quando o então deputado federal Jair Bolsonaro era candidato à Presidência, a culpa do aumento de 0,97% no preço do diesel era do presidente da República, Michel Temer. E conforme relembrou o jornalista Leonardo Sakamoto em sua coluna no UOL, Bolsonaro convocou os caminhoneiros para fazer greve contra o aumento no combustível imposto pela Petrobras.
Contudo, desde o início do seu mandato presidencial em 2019, Bolsonaro parece ter "esquecido" que o poder Executivo - que está sob sua gestão até o final de 2022 - é quem pode mudar a política de preços da Petrobras junto à maioria que possui no Congresso Nacional.
Um "esquecimento" providencial já que assim, Bolsonaro pode culpar entidades, partidos, Comissões Parlamentares, Pandemia, Impostos - e o que mais tiver em sua cabeça no dia - pelo imenso aumento de preços que gasolina, diesel, gás de cozinha e querosene de aviação vêm sofrendo.
Desde 2021, Bolsonaro já jogou essa culpa nos seguintes entes:
- Da covid-19 (fevereiro/2021);
- Dos governadores (julho/2021);
- Do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) (agosto 2021);
- Do Partido dos Trabalhadores (setembro/2021);
- Da Comissão Parlamentar de Inquérito que apurou os desvios no combate à covid-19 (dezembro/2021);
- Da "roubalheira na Petrobras" (janeiro/2022);
- Da guerra entre Rússia e Ucrânia (abril/2022);
Preço de Paridade de Importação - ou PPI
Entre os fatores naturais - criados pela humanidade - e os sobrenaturais que já foram apontados como culpados pelo aumento do preço dos combustíveis, nenhuma vez o presidente citou o Preço de Paridade de Importação (PPI). Porém, ao contrário do presidente, especialistas têm apontado que o PPI é o verdadeiro vilão do aumento dos combustíveis, que tem levado a inflação a altas recordes desde a instauração do Plano Real, há 28 anos.
O PPI é a atual política de preços da Petrobras instituída pelo ex-presidente Michel Temer em outubro de 2016. Ela preconiza que o petróleo extraído no Brasil deve seguir o preço do mercado internacional, mesmo que seja extraído, refinado e consumido no País. Com isso, as flutuações de preço no mercado externo impactam em cheio a nossa economia, ainda que o Brasil seja autossuficente em Petróleo.
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Petroleiros, economistas e a oposição ao governo vêm buscando esclarecer a população sobre a questão para modificar de vez essa política, que tem causado prejuízos imensos não só aos brasileiros, mas também ao Brasil. Os acionistas da Petrobras têm auferido altíssimos lucros com a PPI, às custas do aumento da inflação e da diminuição do poder de compra de 99,9% dos brasileiros.
Segundo Felipe Coutinho, vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), a adoção do PPI levou o Brasil de volta para o passado ao promover um "ciclo do tipo colonial, extrativo e primário exportador do petróleo cru". Do mesmo modo, Coutinho conclui: "São decisões de responsabilidade do Presidente da República que podem e devem ser revertidas para o bem do Brasil".