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"Ministério da Economia nunca entendeu o que é a Ceitec", critica engenheiro

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A decisão do governo federal de extinguir a Ceitec - única fábrica de semicondutores de seu tipo na América do Sul - é alvo de críticas desde que foi anunciada. Um grupo de engenheiros que conhecem a experiência da empresa pública afirma que a posição do Planalto é fruto de desconhecimento e não faz sentido do ponto de vista econômico.

O engenheiro Silvio Luis Jr., que trabalhou no Centro, afirma que decretar seu fim é uma decisão baseada em "falta de conhecimento e falta de visão".

"Nós buscamos entender o que motivou o governo. Talvez o Ministério da Ciência entenda o que seja o Ceitec. Mas o Ministério da Economia nunca entendeu", criticou ele, durante um debate no programa Espaço Plural.

Luis Jr. afirma que o argumento, utilizado pela equipe econômica, de que a Ceitec não era uma indústria de ponta revela desconhecimento do setor.

"Não existe nenhuma outra empresa [no país] que possa fazer a ponte entre universidade e empresas que precisam de chips. As outras empresas existentes no Brasil são apenas encapsuladoras. Nenhuma delas estaria apta a dar prosseguimento ao nicho de mercado atendido pela Ceitec", afirmou, lembrando que a estatal desenvolveu projetos para diversas áreas, da agropecuária à saúde.

Ex-engenheiro da Ceitec, Marcos Dossa explica que a singularidade da Ceitec se deve ao fato de que, na mesma unidade, se combinavam dois processos: o projeto e o desenvolvimento da fabricação.

"Foi um fator de investimentos. Também ajudou a indústria local, mesmo que de forma incipiente. Formação de mão-de-obra não pode haver dúvida de que foi bem-sucedida. A união do design com a produção, só a Ceitec tem no Brasil. Essa sinergia é fantástica", afirmou.

Sérgio Bampi, doutor em Microeletrônica e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, reiterou que é impossível a implementação de uma indústria de ponta na fabricação de chips sem o desenvolvimento de etapas anteriores.

"Não existe a possibilidade de nenhum país superar a dependência do complexo. A Ceitec faz parte de uma estratégia de domínio tecnológico. O país reconhece a dependência, mas busca diminuir o gap", iniciou. Bampi ressaltou que o Rio Grande do Sul tem um histórico relativamente longo e reconhecido, inclusive internacionalmente, de desenvolvimento em microeletrônica.

"Tudo isso se deve ao investimento federal, a partir de 1981. Grande parte do corpo técnico da Ceitec veio do Brasil. Colocar a Ceitec no Rio Grande do Sul fez parte de uma opção de política industrial. Tentou-se reconstruir uma linha perdida durante os anos 90, com a abertura de mercado" , disse.

Bampi ainda destacou que os governos dos países centrais tem investido no desenvolvimento de chips - "Tudo a fundo perdido". Isso, em sua opinião, coloca o governo Bolsonaro na contramão do mundo: "Ao invés de buscar investimentos e buscar parcerias, decidiram extinguir".

A dissolução da Ceitec foi estabelecida por decreto presidencial durante a pandemia. Um Projeto de Decreto Legislativo busca reverter a decisão.