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Mil dias de Inferno no Meio Ambiente sob Bolsonaro

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A primeira vez que Bolsonaro sentou-se na cadeira da presidência da República foi no dia 1º de janeiro de 2019. Desde então, o Brasil passou de exemplo internacional nos debates ambientais para pária do mundo, e motivo de preocupação global por causa da degradação ambiental.

Ainda em 2019, o País foi alvo de crimes ambientais cujo efeito será sentido por muitos anos. Todos eles, em alguma medida com o envolvimento do Estado, seja pelo desmonte dos órgãos ambientais, denunciado por Suely Vaz aqui, seja pelas falas antiambientalistas do presidente da República.

2019 e incontáveis dias sob desastres ambentas constantes

No início de 2019, um crime ambiental chocou o País e causou quase 300 mortes. O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em Minas Gerais. Além das mortes, parte da cidade foi soterrada, apagando memórias, destruindo plantações, criação de animais e deixando um imenso vazio na região. Ambientalmente, os rejeitos tóxicos que poluíram o Rio Paraopeba inviabilizaram a agricultura familiar, além do fornecimento de água limpa para a cidade que até hoje ainda tenta se reconstruir.

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Já entre os dias 10 e 11 de agosto, houve o Dia do Fogo na Amazônia. Fazendeiros da cidade de Novo Progresso (PA) combinaram por whatsapp queimar uma imensa extensão da floresta Amazônica para mostrar a Bolsonaro que estavam "prontos para trabalhar". Isso acarretou em uma destruição da floresta sem precedentes desde que a preocupação ambiental tranformou-se em pauta na sociedade. Houve um aumento de focos de incêncio de 196% em relação a agosto de 2018, sendo que a fumaça das queimadas na Amazônia alcançou cidades do Centro-Oeste e do Sudeste do País.

Outro bioma atacado em 2019 foi o oceano, quando uma imensa mancha de petróleo chegou às praias de grande parte do litoral brasileiro. A tragédia acometeu animais no mar, nos mangues, restingas e outros ecossistemas de diversos estados a partir do dia 30 de agosto. Ainda assim, o Governo Federal acionou o Plano Nacional de Contingência apenas 41 dias depois do primeiro registro das manchas. Depois que moradores, desesperados e sem a proteção adequada, limpavam o estrago com as próprias mãos.

Além dos principais desastres, outros estavam em curso, como por exemplo a falta de fiscalização em reservas extrativistas, os impasses sobre o Fundo Amazônia, a utilização do Exército em ações ambientais - que se mostrou cara e pouco efetiva -, a liberação desenfreada de agrotóxicos, entre outros.

2020, a destruição prossegue com ataques à ciência

Já em janeiro de 2020, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fez um novo ataque à Amazônia. A criação do Conselho da Amazônia, presidida até hoje pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, foi a resposta do governo ao caos ambiental em 2019. De acordo com críticas de especialistas à época, o conselho esvaziava do papel do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente. Além disso, o Conselho tratava apenas da Amazônia, enquanto crimes ambientais eram praticados em todos os biomas brasileiros.

Por volta de agosto, o governo assumiu uma postura negacionista - e perdulária -, e ao invés de investir nas áreas apontadas pelos especialistas, resolveu lançar um microsatélite para fiscalizar o desmatamento. O programa comandado pelo ministério da Defesa foi alvo de críticas e apontado como redundante, já que os sistemas Prodes e Deter já faziam o trabalho.

O bioma mais atacado em 2020 foi o Pantanal, mas isso não significa que o desmatamento diminuiu na Amazônia ou no Cerrado. De acordo com a operação Mataá, quatro fazendeiros botaram fogo nas áreas adjacentes às suas terras e queimaram 26% de todo o bioma em meio à seca que atingia a região.

Os países estrangeiros, as organizações da sociedade civil e a imprensa internacional viraram seus olhos para o Brasil em 2020, mesmo durante a pandemia. O Brasil chegou a ser ameaçado com uma investigação internacional pela ONU sobre a questão ambiental. No mesmo órgão, foi protocolada uma denúncia sobre as mentiras contadas por Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU naquele ano.

2021, as consequências dos mil dias de inferno

Não se destrói o meio ambiente impunemente. Essa foi a conclusão do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU). Ainda que o relatório tenha se detido sobre as situação global de risco climático, cabe perfeitamente na atual situação do Brasil.

O País passa pela pior seca em 91 anos e sofre risco de apagão e até de racionamento de água. Represas estão com os piores níveis já vistos; a temperatura está beirando o insuportável em algumas localidades e a seca tem dado prejuízos ao agronegócio. Especialistas brasileiros afirmam que a mudança de uso do solo - da vegetação tradicional para a agropecuária e para a impermeabilização das cidades - têm forte impacto na formação das chuvas e um ciclo vicioso tem causado preocupação em relação ao futuro.

Contudo, nada disso refreou a ânsia dos ruralistas, apoiados por Bolsonaro, na degradação do meio ambiente. Leis como o represamento de pequenos cursos d'água são votadas com urgência no Congresso Nacional, enquanto o acesso à água potável ainda não é universal no Brasil. No mesmo sentido, o agro avança em pautas como o PL da Grilagem, que se espraiam no Judiciário, como o Marco Temporal.

Para superar os desastres dos últimos mil dias, serão necessários mil anos.