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Mais uma para a coleção: Bolsonaro mente sobre transição energética na ONU

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As mentiras de Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) - que ocorreu ontem (20) - se estenderam por diversos assuntos, entre eles, a questão energética. Utilizada pelo presidente brasileiro para atacar países europeus que criticam seu governo, já que por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia a Europa tem recorrido ao carvão, Bolsonaro gabou-se por avanços históricos obtidos ainda no século XX que o seu próprio governo vem destruindo.

Segundo André Luis Ferreira, professor do curso de especialização em Gerenciamento Ambiental (ESALQ/USP) e diretor presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), atualmente o Brasil vive uma transição energética sim; porém, ela aponta para o aumento de emissões de poluentes.

Em entrevista ao Reconta Aí, Ferreira explicou pontos importantes citados pelo presidente em seu discurso. Sobre os biocombustíveis, o presidente do IEMA afirmou: "De fato o Brasil tem um programa de biocombustíveis que tem quase 50 anos - da década de 70 - que foi o Pró-Álcool, mas não se pode afirmar que estamos em uma transição energética por causa desse programa. Ainda hoje, 77% da energia usada nos sistemas de transporte do Brasil é de origem fóssil e isso não tem apresentado melhoria".

Uma situação que não tem previsão de melhoria: "Quando olhamos as projeções feitas pelo próprio governo para o futuro, é possível observar que vamos continuar dependentes especialmente no caso do diesel", aponta. Ferreira prossegue: "Inclusive, alguns anos à frente teremos importações de óléo diesel que baterão recordes históricos".

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Transportes e energia elétrica

"Não há nenhum programa estruturado ou política pública que vise a substiuição do diesel. Essa dependência de petróleo que o Brasil tem no setor de transportes mostra que não há nada que aponte que estamos em uma transição energética para uma matriz mais limpa", aponta o especialista contradizendo Bolsonaro.

A situação é parecida quando se trata do setor elétrico, que ocupou mais tempo da fala de Bolsonaro na ONU. É fato que, atualmente, o País possui uma das matrizes de produção de eletricidade mais limpas do mundo, "dado nosso histórico de uso de usinas hidrelétricas", explica Ferreira. Contudo, esse legado está em risco pela ação do próprio governo Bolsonaro.

"A transição energética da matriz elétrica em curso é na direção contrária, é para piorar", desabafa o especialista. "Tem-se apostado muito nas usinas termelétricas a gás, que vão ocupando espaço que poderia ser de outras renováveis, como eólica e solar, que também vêm crescendo, mas a grande aposta é nas termelétricas fósseis".

Para finalizar, Ferreira voltou à questão do carvão. Ele relembra que ao mesmo tempo em que Bolsonaro criticou os países europeus pela volta ao consumo do combustível, o governo trabalhou para que o Congresso Nacional aprovasse a extensão do prazo de subsídios a essa forma de geração. "Não se pode afirmar que estamos nem mantendo essa matriz mais limpa, há uma transição energética que aponta para o aumento de emissões (de poluentes) no setor elétrico", concluiu.