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Mais um Passo Adiante – a diplomação de Lula e Alckmin

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Iniciamos a caminhada para a normalidade democrática que, se não é plena, está mais próxima das aparências que já conhecíamos. Com a pompa, a solenidade, os ritos e os protocolos que fazem parte de uma tradição ainda recente, mas que nos garante credibilidade e ingresso no rol de países que podem ser levados a sério no cenário internacional.

Nunca uma diplomação atingiu essa audiência, contou com essa espera, causou tanto barulho midiático. Não seria só uma diplomação. A investidura não seria da presidência, mas do próprio processo democrático. Pela primeira vez em seis anos, a ascensão do fascismo foi declarada oficialmente, embora não assim nomeada. Arbítrio, autoritarismo, obscuridade e violência só vistas nos piores tempos, como disse Lula. O tamanho da vitória foi dissecado pelo Presidente da República: derrotou-se o poder econômico, os empresários, a vontade militar, os grupos autoritários e violentos disseminados na sociedade, o poder das mentiras e boatos levados como notícias e verdades, alienando a população do processo político.

Moraes ainda tentou falar em continuidade, mas a própria dureza de seu discurso, anunciando que há investigação e nomes confirmados, e que haverá punições, já mostrava a excepcionalidade de um evento comumente desprezado pelas ânsias de poder da elite e que, assim, de pouco valeu em suas duas últimas edições. A terceira diplomação da liderança mais popular de nossa história transformou-se em desabafo, uma vez que os principais alvos do ódio reacionário, Lula e Alexandre de Moraes, puderam dizer pela primeira vez o quanto foi difícil superar o buraco político em que nos enfiamos.

Lula lembrou as mentiras, as injustiças e a prisão com emoção. Cumprimentou Dilma especialmente e rememorou a vigília de Curitiba. Se essas eleições mostraram que o brasileiro tem, sim, memória, escolhendo a única lembrança viva de tempos melhores e mais prósperos, a cerimônia da diplomação manteve a memória como um ponto importante para a sobrevivência democrática. Em um país habituado a acomodações políticas e jurídicas, onde qualquer recordação da Ditadura deve ser apagada por todas as instâncias de poder e ainda gera reações militares e midiáticas, a diplomação abrigou a promessa de, ao menos uma vez, ir adiante na responsabilização de crimes contra o processo democrático. Se a democracia deve ser buscada, como os protagonistas disseram, dificilmente se andará para a frente mantendo a normalização dos principais grupos fascistas e de seus representantes.

Por fim, uma única conclusão. Se tal importância se deu a um evento formal, em geral cansativo e protocolar, atraindo as atenções da mídia, do Judiciário, do Congresso e até de seus inimigos, há um motivo. Se a continuidade democrática precisa ser ressaltada apenas agora, nessa diplomação específica, uma confirmação se dá. Vivíamos uma realidade próxima a um Estado de Exceção. Hoje todos os arautos do “funcionamento normal das instituições” foram obrigados a ceder. Jornalistas, empresários, juízes, promotores e opositores não podem mais fingir negar o que hoje ficou cristalino.

Vamos saindo lentamente da escuridão, passo a passo. Só agora há um esboço de ordem institucional.

Mas foi golpe.