O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o evento em que participou na noite desta quinta-feira (5) na Unicamp para falar sobre questões geopolíticas e econômicas. Retomando a experiência de seus dois governos, o ex-presidente introduziu os temas econômicos por meio da explicação da política externa que praticou desde o primeiro mandato.
"Eu fui fazer uma viagem pra davos dia 25 de janeiro de 2003. Eu era convidado, e era a primeira vez que um presidente operarário ía falar no fórum dos ricos. Celso Amorim (então Chanceler) disse que precisávamos mudar a nossa geopolítica", relembrou Lula.
Esse foi o ponto de partida para que Lula falasse sobre a posição de liderança que o Brasil ocupou durante seu governo, quando privilegiavam-se as relações multilaterais ao invés do alinhamento automático aos Estados Unidos, levado a cabo atualmente por Jair Bolsonaro. E também para defender as relações comerciais com países pobres, muito criticados durante sua gestão.
A relação com os Estados Unidos e os programas sociais da Era Lula fizeram parte da mesma política econômica
"Os americanos queriam implantar no Brasil a ALCA, e nós achávamos que isso atenderia somente os interesses dos Estados Unidos", recordou o ex-presidente. Assim, foi construído a muitas mentes um programa de multilateralismo econômico que resultou no fortalecimento do Mercosul, na criação da Unasul e, finalmente, na criação dos Brics - bloco formado pela África do Sul, Rússia, Índia, China e Brasil - que Lula afirmou querer retomar caso seja eleito para um próximo mandato à frente da presidência do País.
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Conforme a linha de raciocínio desenvolvida por Lula, essa inclusão dos países pobres e a do fortalecimento de relações com eles foi o passo decisivo para a implementação de uma política econômica que promovesse a inclusão social.
Para explicar como isso ocorreu, Lula lançou mão da sua história. Relembrou seus tempos de sindicalista, quando discutia o que deveria vir primeiro: o aumento do salário mínimo ou o crescimento econômico. O dilema, segundo ele, foi solucionado já na presidenência da República: ambos deveriam caminhar juntos.
"E é por isso que aumentamos em 74% o salário mínimo e não tivemos inflação", explicou.
A defesa das estatais e de um Estado forte
A manutenção da orientação econômica inclusiva deve continuar caso Lula ganhe, mas com algumas mudanças. Uma delas é mudar a política das campeãs nacionais para o fomento às pequenas e médias empresas e pequenas e médias produções rurais. Para tanto, Lula diz que se valerá do BNDES, um banco público fundamental no desenvolvimento do País.
A Eletrobras - que corre risco de privatização nesse último ano do governo Bolsonaro - foi outra estatal apontada por Lula como responsável pela inclusão econômica e social da população. Com números na ponta da língua, o ex-presidente indagou sobre o Programa Luz Pra Todos - levado a cabo integralmente pela Eletrobras : "Eu quero saber se eles privatizarem a Eletrobras quem é que vai fazer o programa Luz Para Todos".
Doze milhões de pessoas foram contempladas pelo programa, algo que "tirou a população do século XV e levou para o século XXI" e que também aumentou a produção aquecendo a economia do Brasil. "Quando a energia elétrica chega na casa de uma família, 89% compram uma geladeira. E assim a economia começa a girar", explicou.
Lula concluiu sua fala sobre economia afirmando: "O Estado tem que começar a fazer as coisas para o resto vir atrás".