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Lei Áurea pela voz de negras brasileiras

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Imagem do site Recontaai.com.br

Há 132 anos era assinada no Brasil a Lei Áurea, que pôs fim à escravidão; porém, o Movimento Negro não comemora essa data.

Mulheres na Marcha das Mulheres negras. A Lei Áurea não foi a abolição do preconceito contra negras e negros. Foto: Agência Brasil

Muitos se perguntam porque a Lei Áurea não é comemorada por negras e negros na atualidade. Para responder a questão, convidamos a militante do Círculo Palmarino Ana Claudia Mielke para falar sobre a abolição da escravidão, como foi feita e os efeitos no Brasil de 2020.

A abolição preconizada na Lei Áurea não foi concluída

Considero que o Brasil nunca concluiu seu processo de abolição. E isso se deve a mais de um século da falta de políticas públicas de inclusão e reparação histórica. A população negra, ainda hoje, é a que mais sofre com os efeitos das desigualdades estruturais do capitalismo à brasileira. Desigualdades que, por aqui, sabemos, tem cor!

As poucas e descontinuadas ações de enfrentamento ao racismo estrutural não deram conta ainda de radicalizar a estrutura da desigualdade racial no País. Houve um tempo em que o movimento negro negou a celebração do 13 de maio, como forma de protesto.

Hoje nós optamos não por celebrar a data, mas por ressignificá-la, na história e na vida. “A abolição não veio do céu nem das mãos de Isabel” cantou o samba da Mangueira em 2019. E é isso que tentamos pautar no dia 13 de maio. A abolição foi conquista da luta de negras e negros que vieram antes de nós!

Poderia falar de uma infinidade de permanências da escravidão na vida das mulheres negras no Brasil, mas em tempos de pandemia não posso deixar de falar de coronavírus.

O Brasil pode se tornar epicentro de uma crise sanitária e humanitária mundial, e isso não acontece por acaso, acontece porque aqui a Covid-19 está escancarando desigualdades históricas. E uma delas é a desigualdade racial.

As mulheres negras são herdeiras das mazelas históricas e sua tripla exploração (gênero raça e classe) faz com estejam na linha de frente no cuidado e sobrevivência das famílias, especialmente nas periferias e favelas.

Felizmente são também as mulheres negras as herdeiras da força ancestral da transformação do País e é com essa força que temos enfrentado o descaso e a omissão do Estado na pandemia. Basta olhar para as ações de solidariedade que pipocam em centros degradados e periferias das cidades, que verás a força da mulher negra movendo a estruturas do mundo.