Ocorrido na última quarta-feira (7), o jantar de Bolsonaro com empresários gerou comparações com a Conferência de Wannsee, em que se tramou a ‘Solução Final’.
Como tentativa de responder à carta dos empresários, divulgada no dia 21 de março com críticas à gestão da pandemia, o governo Bolsonaro articulou um jantar com nomes do empresariado nacional.
No evento – ocorrido em uma luxuosa casa nos Jardins, bairro nobre da cidade de São Paulo – Bolsonaro e os ministros Marcelo Queiroga (Saúde), Paulo Guedes (Economia), Fábio Faria (Comunicações) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) se reuniram com cerca de 20 empresários.
Nomes como Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco e André Esteves, do BTG Pactual, ovacionaram o presidente mesmo no momento em que o Brasil foi considerado o pior País do mundo na gestão da epidemia de Covid-19, segundo estudo do Lowy Institute.
Mas o que isso tem a ver com a Conferência de Wannsee?
De acordo com Thais de Santis Rocha, mestre em História Social pela USP, com ênfase em História da Alemanha nazista, há vários fatos que aproximam a política nacional brasileira atual com eventos relacionados à Alemanha da década de 1940. Ela cita, por exemplo, o jantar com os empresários e a Conferência de Wannsee.
A Conferência ocorreu em dia 20 de janeiro de 1942, em uma residência próxima a Berlim. Nela, segundo conta Thaís de Santis Rocha, “foi informada para os presentes – membros superiores do governo, líderes da SS e empresários – a ‘Solução Final’. Ou seja, o processo sistemático do extermínio de judeus sob a patente do Estado”.
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No jantar de Bolsonaro com empresários, foi informado pelos representantes do governo que mesmo com a mudança do ministro da Saúde, não seria realizado um lockdown nacional. A medida é um dos dispositivos, além da vacina, capaz de conter a pandemia.
Genocídio
Contudo, o que mais aproxima o Brasil de hoje da Alemanha nazista é a grande quantidade de mortes que poderiam ter sido evitadas. Ainda que durante o nazismo o objetivo fosse exatamente o extermínio, a omissão do Governo Federal em relação à pandemia de Covid-19 também pode ser considerada criminosa, como afirma o Instituto Nacional de Pesquisa e Promoção dos Direitos Humanos (INPPDH).
“A busca pelo apoio de empresários foi importante para legitimar as propostas adotadas pelo Governo Federal em relação à gestão da pandemia para manter os ‘CNPJs’ vivos”, afirma a historiadora. Isso mostra que o governo faz oposição, falaciosa, entre a economia e as vidas humanas. No mesmo sentido, aponta que a prioridade do governo são as grandes empresas, em detrimento das milhões de vidas brasileiras.
“O contraste entre a celebração desse grupo, com garrafas de bebidas caras e muito luxo, e o aumento da desigualdade social, como demonstrado pela fome e desemprego, escancaram o que realmente importa: as negociações a qualquer custo para se manter no poder”.
Thais de Santis Rocha, mestre em História Social pela USP, com ênfase em História da Alemanha nazista