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Impacto das privatizações: representantes de empregados relatam adoecimento físico e mental de funcionários

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audiência pública empresas privadas

Desde o governo Temer, as empresas públicas brasileiras como a Caixa Econômica Federal, Correios, Petrobras, Dataprev e Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), dentre outras, passaram a ser vistas como fonte de lucro fácil pelo governo. E isso não está relacionado com investimentos no fortalecimento destas instituições visando o aumento do lucro, mas sim com a entrega delas à iniciativa privada.

Frente a essas privatizações - em planejamento e em curso - a deputada federal Erika Kokay (PT/DF) e o deputado federal Leonardo Monteiro (PT/MG) promoveram nesta segunda-fria (29) uma audiência pública na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados. A discussão girou em torno do impacto das privatizações sobre os trabalhadores - tema negligenciado em relação aos lucros e beneficiamento de empresas privadas.

"Bolsonaro precisa se conscientizar de que não é dono do Estado, das empresas públicas, do Supremo Tribunal Federal", desabafou Erika Kokay.

Na mesa, representantes de empregados relataram o adoecimento físico e mental dos empregados públicos: a constante ameaça de privatização, somada a assédios de vários tipos, tem levado muitos a abandonarem a carreira pública e até o País. Algo que está em curso principalmente entre os funcionários públicos de empresas de tecnologia, como a Ceitec, a Dataprev e o Serpro, conforme afirmaram os representantes da FENADADOS e ACCEITEC.

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Trabalhadores em sofrimento e população desassistida

Fabiola Latino Antezana, representante do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) ressaltou a situação dos trabalhadores em duas privatizações de distribuidoras de energia no Centro-Oeste do Brasil.

"O exemplo que nós temos da privatização da distrubidora de Goiás é que foram demitidos 50% dos trabalhadores em um ano. Porém, com a diminuição da qualidade do serviço e o aumento das reclamações, tiveram que recontratá-los. Em Brasília, a privatização também gerou grandes problemas. Na época em que a distribuidora era pública, as reclamações eram sobre erros na medição de consumo. Com a privatização, hoje a maior parte das reclamações é sobre a falta de energia elétrica", disse.

Sânia Barcelos Reis, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal no Estado de Minas Gerais, falou sobre os trabalhadores do Ceasa/MG: "Atualmente temos 194 empregados altamente qualificados na empresa. Em consulta ao BNDES, descobrimos que nenhum deles poderá ser reaproveitado em utros órgãos públicos em caso de privatização", contou.

Além disso, a dirigente ressaltou o papel que a Ceasa/MG deixará de cumprir junto à população: "Hoje, o agricultor aluga um espaço no Ceasa/MG por R$ 10. Já sabemos que caso a privatização se concretize, o valor dobrará, inviabilizando que os agricultores que mais precisam possam expor".

O serviço dos trabalhadores dos Correios foi defendido por Amanda Gomes, representante do SINTECT/DF. Ela destacou que a ECT é a maior empresa de logística da América Latina e uma das maiores do mundo, além de seu papel social no Brasil. "Entrega de livros didáticos a vacinas e medicamentos, além de fazer a emissão de documentos, arrecadação e distribuição de donativos durante as tragédias ambientais".

Futuro

Além do pedido de ajuda feito por todos os representantes dos empregados, a Audiência Pública ainda contou com a esperança de um futuro não privatista. Deyvid Barcelar, Coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP) afirmou: "O próximo governo precisará rediscutir as demissões deste governo privatista, para quem sabe costurar uma anista aos trabalhadores demitidos". O petroleiro foi apoiado pelo deputado federal Glauber Braga (PSOL/RJ), que afirmou ser favorável à reestatização de todas as empresas privatizadas sob Bolsonaro.

Rita Serrano, coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, concluiu a apresentação de todos os representantes com dados alarmantes. Com base em pesquisas que realiza cotidianamente, Serrano mostrou que o número de funcionários públicos vem declinando enquanto a população brasileira cresce. E afirmou que esse projeto de sucateamento dos serviços faz parte da campanha privatista do governo. Ao mesmo tempo, expôs outra manobra adotada pelo governo para seguir realizando privatizações sem passar pelo Congresso Nacional, como pede a Constituição.

"De 2016 até hoje o número de empresas públicas caiu, porém, o número de subsidiárias aumentou", disse, mostrando que o fatiamento das estatais é uma forma de vender as áreas mais lucrativas sem passar pelo crivo dos representantes da população que, em sua maioria, segue contra as privatizações.