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Ideia de "País quebrado" serve à estratégia de privatização, diz ex-diretora da Caixa

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A Caixa Econômica Federal vem divulgando, neste início de 2021, uma série de comunicados em que apresenta movimentações no sentido de abrir a área de seguros da instituição à entrada de capital privado. Exemplos são um acordo com a Tokio Marine no setor habitacional e o avanço da abertura de capital da Caixa Seguridade. Para a ex-diretora do Banco Márcia Kumer, estas iniciativas têm ligação com fala recente do governo sobre “País quebrado”.

“Tudo isso está enquadrado na fala de Bolsonaro, de que o País está quebrado. Ele está dizendo que precisa de dinheiro, que precisa vender. É a síntese do que eles pretendem fazer”, afirma. “Uma grande farsa para liquidar com as estatais. Como o País pode estar quebrado, quando o Banco Central informa reservas cambiais acima de U$ 350 bilhões?”.

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Kumer, que trabalhou na Caixa por 34 anos e foi diretora de Governo e Habitação, lembra que, após o anúncio feito por Bolsonaro de que o Brasil está quebrado – o que justificaria sua inação – não houve reação negativa da Bolsa de Valores. Posteriormente Guedes concordou, afirmando que o presidente se referia ao setor público.

Entidades como a Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa (Fenae) têm se posicionado da mesma forma em relação às iniciativas do Governo Federal e da atual direção da instituição. Desde a decisão do Supremo Tribunal Federal que vetou a privatizações de empresas matrizes sem autorização legislativa, funcionários públicos têm denunciado o fatiamento de diversas estatais.

A ex-diretora entende que a ofensiva sobre a área de seguros se enquadra nessa política geral, que, na realidade, não é nova: “Está dentro da estratégia do processo de privatização. Foi o protótipo de privatização tentado no governo FHC. A Caixa Seguros foi a primeira peça. Não privatizaram porque mudou a direção do País em 2002”.

A presença de capital privado, lembra ela, pode desvirtuar as funções sociais da Caixa e seu papel de promotora do desenvolvimento.

“Se o produto está na nossa mão [do Estado], a gente consegue definir. Quem tem 51% [das ações] é quem vai definir. O capital privado, sendo majoritário, impede que se estabeleça um valor adequado para que a população acesse, principalmente, o crédito imobiliário e possa pagar, pois o seguro é um importante componente do crédito habitacional. O que vai valer é o lucro [máximo]”, critica.

“Não se pode submeter a população a este tipo de processo. O Estado precisa de instrumentos reguladores, e a Caixa é um destes instrumentos”, complementa.

Para Kumer, a Caixa ocupa uma posição estratégica nesse sentido. “Existe uma ação articulada do sistema financeiro internacional para acabar com os instrumentos de desenvolvimento de um País, e também com os fundos, para que o País fique dependente das regras, condições, taxas do mercado financeiro internacional. A Caixa é uma das instituições que permitem a construção da soberania nacional”, finaliza.