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Governo brasileiro promove retrocesso tecnológico com liquidação do Ceitec

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Presidente da Associação dos Colaboradores do Ceitec adverte que liquidação da empresa trará prejuízos ao Brasil.

A única empresa da América Latina capaz de produzir circuitos e soluções em microeletrônica com tecnologia de ponta vai fechar. Em outras palavras, o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) está sendo liquidado pelo governo Bolsonaro por meio do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

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De acordo com Silvio Luis Santos, presidente da Associação de Colaboradores da Ceitec (Acceitec) os prejuízos para o Brasil são incalculáveis. "O Brasil perde a capacidade humana por ter uma evasão de cérebros, perde em infraestrutura por ser a única sala limpa com capacidade industrial operacional no País e  por ter um sistema integrado funcional", afirma Santos. Ou seja, o Brasil perde capacidade industrial de tecnologia no presente e um papel importante no mercado mundial do futuro.

Funcionários da empresa já começam a ser exonerados. Os trinta e quatro primeiros da fila são técnicos administrativos operacionais, técnicos em eletrônica avançada, analistas administrativos operacionais, especialistas em tecnologia eletrônica avançada, assistentes técnico e gerentes. A Associação dos colaboradores do Ceiteic criticou o processo nas redes sociais: "Sem um cronograma aprovado e sem anuência do sindicato". Contudo, mesmo com a mobilização dos trabalhadores, a liquidante da do Ceitec já anunciou que todos os empregados serão exonerados.

Ceitec poderia ser uma ferramenta transformadora da sociedade, afirma Silvio Luis Santos

Em entrevista ao Reconta Aí, Silvio Luis Santos falou mais sobre a empresa e seu processo de liquidação. Confira.

Reconta Aí - Quando começou a liquidação da Ceitec?

Silvio Luis - A liquidação do Ceitec iniciou no governo Temer, quando foram indicados políticos para ocupar cargos estratégicos dentro da empresa. Concomitante, o Governo Federal parou de utilizar o seu poder de compra para dar demanda às encomendas realizadas, evitando assim o faturamento e o girar da engrenagem lógica de uma indústria. Isso acarretou no estoque de produtos e prejuízos com o custeio de pessoal e desenvolvimento dos produtos.

Reconta Aí - Quais eram as encomendas que o Governo Federal deixou de fazer ao Ceitec?

Silvio Luis - Entre estas encomendas do Governo Federal encontravam -se, por exemplo, etiquetas RFID para bolsas de sangue e hemoderivados; chip do Boi em atendimento ao Sisbov (Sistema de Identificação de Bovinos e Bubalinos); Chip do Siniav (Sistema de Identificação Automática de Veículos); Chip do passaporte em parceria com a Casa da Moeda; Chip de identificação e controle de ativos e documentos, desenvolvidos para atender a demandas públicas como carteira de identidade e controle de documentos. Além de diversos outros desenvolvimentos, como sensores para área da saúde, agronegócios, militares.

Reconta Aí - O Ceitec segue sendo a único na América Latina a fazer  componentes que só são produzidos nos países ricos?

Silvio Luis - O Ceitec possui uma planta fabril que poderia atender o mercado interno e externo com dispositivos de 5G, Potência, Fotônica, Microfluidica, Sensores (área da saúde, agronegócios, militares, veiculares e etc). Além disso, a empresa realiza o pós-processamento em nível de wafer, isto é, teste elétricos, afinamento e corte, encapsulamento e enfitamento de chips.

No mesmo sentdo, o Ceitec possui um escritório de projetos e desenvolvimento de parceiros e processos com a cadeia produtiva, o que agrega muito para o mercado nacional gerando arrecadação pública, renda e empregos indiretos. Muitos destes processos só o Ceitec consegue realizar. Se considerarmos a escala industrial, somente o Ceitec pode atender à demanda.

Reconta Aí: Quais serão os prejuízos ao Brasil e aos brasileiros, com a extinção do Ceitec?

Silvio Luis - O Brasil perde a capacidade humana por ter uma evasão de cérebros, perde em infraestrutura por ser a única sala limpa com capacidade industrial operacional no País e  por ter um sistema integrado funcional. É um modelo de poucas industrias terem as competências de projeto ao chip testado e encapsulado. Isto acontece devido à imaturidade da industria nacional no setor de semicondutores.

Reconta Aí: O que restará ao Brasil após a liquidação do Ceitec?

Silvio Luis - A perda em relação às etapas de fabricação sobre o silício serão irreparáveis. Restarão somente laboratórios universitários, sem a capacidade de receptibilidade e escala industrial.  A estrutura física da fábrica do Ceitec jamais deveria ser perdida, além disso, há altos custos e riscos envolvidos no descomissionameto seguro, cerca de R$ 300 milhões segundo estudos do PPI. Não há planta semelhante na América Latina.

Reconta Aí: Como os trabalhadores estão enfrentando o processo?

Silvio Luis - Os colaboradores altamente qualificados já iniciaram a sua evasão para o mercado internacional. Um mercado aquecido, com escassez de mão de obra qualificada e que paga valores superiores ao nacional, além de valorizar estes profissionais.

Reconta Aí: Qual foi a justificativa dada pelo governo para a extinção da estatal?

Silvio Luis - A justificativa do Governo Federal foi o custo que a indústria de semicondutores gera aos cofres públicos. Infelizmente, se o Governo Federal quisesse o bem estar e desenvolvimento econômico e social do Brasil, olharia para o Ceitec como uma ferramenta transformadora da sociedade. Bem como investiria massivamente em políticas públicas, poder de compra e dinheiro como recentemente os governantes dos EUA, Comunidade Europeia e os Tigres Asiáticos fizeram: aportando bilhões de dólares e euros para modernizar a indústria e se manterem competitivos frente à crescente demanda e guerra tecnológica do 5 e 6G.

Reconta Aí: Como o senhor considera a justificativa do governo?

Silvio Luis - Considero uma tremenda injustiça com o provo brasileiro e sua comunidade científica. Um legítimo retrocesso tecnológico. O Brasil agora se distancia, ainda mais, dos países desenvolvidos. Se seguir este caminho, restará apenas a exportação de matéria prima, grãos e gado vivo.

Reconta Aí: Trinta e quatro funcionários já foram demitidos e há a promessa de demissão de todos. Houve alguma compensação financeira para tal?

Silvio Luis - Não, as demissões foram todas sem tipo de acordo ou negociação com o sindicato e associação. Simplesmente os funcionários foram demitidos. Alguns nem foram comunicados pela empresa; leram o seu nome no Diário Oficial da União, outros foram comunicados pelos seus colegas. Um descaso total.

Reconta Aí: Quais medidas a Acceitec vem tomando até agora?

A Acceitec vem buscando por meio das mídias sociais como Twitter, Youtube e Linked in se tornar pública para sociedade e políticos. É um movimento totalmente apartidário que já trouxe uma exposição muito positiva para o Ceitec e a Acceitec. A sociedade não teve a oportunidade de manifestação durante o processo arbitrário do PPI e PND.  

Além disso, estamos tomando medidas cabíveis, tanto na esfera administrativa e medidas judiciais, que são as ações trabalhistas, além de denuncias aos órgãos de controle e Ministério Público do Trabalho.

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