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Gestores de fundos devem abandonar "otimismo exacerbado", diz economista

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Imagem do site Recontaai.com.br

Um setor que terá enormes desafios pela frente no contexto dos desdobramentos econômicos da crise atual é o de fundos de pensão. O tema – “Economia em tempos de Covid-19: impactos na vida dos participantes de fundos de pensão” – foi o centro de um debate digital promovido pela Anapar (Associação Nacional dos Participantes de Previdência Complementar e Autogestão em Saúde).

Para o economista Edevaldo Fernandes, especialista na questão, ainda não há dimensão exata dos problemas que passaremos a enfrentar: “Ninguém tem ideia do tamanho da encrenca em que estamos”. Em sua opinião, entretanto, é possível esperar um cenário futuro de “recessão, falências e desemprego”.

Fernandes defendeu que os gestores passem imediatamente a debater a possibilidade de “rever a carteira de investimentos”, tendo em mente que “a capacidade de contribuição das empresas para os planos provavelmente irá diminuir”.

Para ele, será necessário cada vez “mais realismo” e o fim de posturas baseadas em “otimismo exacerbado”, já que não se deve planejar a gestão dos fundos com base nas variações da bolsa, que vem apresentando recuperações em seus índices.

“O que fundamenta nós estarmos em 93 mil pontos? Aqui vem o chamado: não há nenhum elemento racional que justifique. Não há retomada, não há entrada de capital exterior, ainda que do ponto de vista de gestores das entidades, houve uma oportunidade de ganhar”, afirmou.

Anos perdidos

O debate contou também com a presença de Clemente Ganz, sociólogo e técnico do Dieese. Em sua análise destacou que, se permanecerem as tendências econômicas e políticas, rumamos para um “velho normal piorado”. No caso brasileiro, ressaltou como a ausência de coordenação política prejudica ainda mais a situação.

“Está cada vez mais claro que aquele normal era fundado em profundo desequilíbrio no sistema produtivo; se entrar na crise foi difícil, sair vai ser mais. A saída sincronizada dessa crise pode não ser muito simples. Por exemplo: quem vai receber a vacina primeiro? Quem ficar por último, vai ficar na rabeira da retomada. E o Brasil se candidata a ser um dos últimos da fila”, lamentou.

Na avaliação de Ganz, o pior cenário pode se concretizar no País: a necessidade de diversos períodos de isolamento por conta da ausência de planejamento de médio prazo. Caso isso ocorra, ele prevê que o cenário de recessão possa regredir para o de uma depressão.

“Se isso acontecer, poderemos perder 20 ou 30 anos da economia nacional. No patamar que já está, já perdemos 10 anos”, criticou.

Ante o “vazio propositivo”, o sociólogo também projeta um contexto de gravidade social, em que a desocupação irá explodir: “Creio que caminhamos para uma taxa visível de desemprego de 15% ou 20%. Podemos ter um mercado de trabalho em que dois terços da força de trabalho estará sem ocupação ou em funções precarizadas”.

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