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Exclusão financeira: 16,7% dos brasileiros ainda vivem em famílias sem acesso a serviços bancários

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fundos de pensão, juros

Conta corrente, poupança e crédito fizeram parte do cotidiano de grande parte da população brasileira entre 2017 e 2018. Entretanto, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018 mostrou que para 16,7% dos brasileiros, a porta giratória de um banco não era realidade acessível: eles viviam em famílias em que nenhum dos componentes tinha ao menos um desses serviços bancários.

De acordo com a POF, cerca de 33,8% da população vivia sem que ninguém da família tivesse conta corrente. Em relação à poupança, 55,9% dos cidadãos viviam em uma família com acesso à aplicação mais comum no Brasil. O número de pessoas atendidas diminui ainda mais quando se trata do recebimento de seguros: apenas 35,3% das pessoas relataram viver em uma família que já recebeu um benefício do tipo.

No mesmo sentido, a obtenção de crédito para parcelar um bem - como casa, carro ou motocicleta - chegou a 32,1% das famílias brasileiras no período analisado.

Inclusão financeira e inclusão bancária são desafios diferentes

O período analisado é imediatamente anterior à pandemia, quando um esforço da Caixa Econômica Federal conseguiu cadastrar milhões de brasileiros para o pagamento do auxílio emergencial. Somente entre março e outubro de 2020, cerca de 9,8 milhões de brasileiros iniciaram um relacionamento com instituições financeiras.

Contudo, é preciso ter cautela ao analisar apenas quantativamente o número. "Não basta abrir uma conta, tem que ter acesso aos serviços financeiros e qualidade para dizer que essa pessoa é bancarizada", aponta o economista e historiador Jean Moreira Rodrigues.

O Banco Central define como a inclusão financeira plena, o “estado no qual toda a população tenha acesso e faça uso, de maneira simples, equilibrada e consciente, de serviços financeiros que tragam ganhos de bem-estar ao cidadão, de maneira conveniente e por preços acessíveis”.

A importância da inclusão bancária e financeira de toda população

Muitas vezes, ter acesso ao crédito é fundamental para uma família obter algum tipo de bem. Por isso, estar à margem dos bancos acaba se tornando um entrave. E o acesso às instituições financeiras ainda é muito desigual. A POF mostra, por exemplo, que entre os 83,3% da população que viviam em domicílios onde pelo menos um morador tinha acesso a um dos serviços financeiros, 37,1% estavam no Sudeste e 20,4% no Nordeste. Do mesmo modo, a maior parte dos que não tinham acesso aos serviços financeiros era preta ou parda, segundo a pesquisa.

“Infelizmente, está difícil o acesso aos serviços bancários e ao crédito por parte da população de baixa renda", desabafa a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.

"Hoje a economia está paralisada, temos altos índices de desemprego. Para agravar ainda mais a situação, o governo Bolsonaro aplica uma política permanente de privatização que ameaça os Bancos Públicos", critica.

Juvandia aponta que os bancos privados não se interessam em abrir agências no interior do Brasil, concentrando suas operações no Sudeste e Sul. Além disso, ressalta que o governo tem tentado acabar com os Fundos Constitucionais que, segundo ela, são importantes para o desenvolvimento das regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste.

"Para termos uma inclusão bancária, é preciso mudar completamente essas políticas”, sintetiza a presidenta da Contraf-CUT.