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"Estamos em uma esquina civilizatória"

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Imagem do site Recontaai.com.br

Em evento online sobre sustentabilidade promovido pelo Senado em conjunto com a CEPAL, senador Jaques Wagner (PT/BA) afirma: “ou o mundo adota outro modelo de crescimento ou viveremos uma sucessão de crises”.

Propostas para uma recuperação sustentável: este foi o tema do webinar ocorrido nesta segunda-feira (29). Realizado em parceria pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e o Senador Jaques Wagner, que preside a Subcomissão do Grande Impulso para a Sustentabilidade, o encontro reuniu uma série de palestrantes internacionais.

Criada para fomentar o crescimento do País após as crises sanitária e econômica por causa do isolamento social, a subcomissão tem como missão criar um Novo Arranjo Verde. Nesse sentido, destaca-se a necessidade de produzir um ciclo virtuoso de crescimento econômico, com geração de emprego e renda, com redução das desigualdades e promoção da sustentabilidade.

Brasil descumpre acordos internacionais na área ambiental

De acordo com o senador Fabiano Contarato (REDE/ES), há um desmonte na área ambiental no Brasil. Para tanto, Contarato se apoia no relatório que apresentou na COP-25, ocorrida na Espanha em 2019. Nele, estão expressas a descontinuidade do Fundo Amazônia, paralisia nas ações contra o aquecimento global e a recusa do Brasil em sediar a COP-25 entre outras medidas que apontam para a desvalorização do tema.

Além disso, de acordo com o relatório do Senado apresentado pelo senador Contarato na COP-25, o Brasil vem descumprindo o Acordo de Paris. O que inclui o aumento do desmatamento e queimadas na Amazônia. No mesmo sentido, Contarato ainda afirma que o atual governo do Brasil nega a ciência.

Desenvolvimento sustentável ou uma sucessão de crises

O senador Jaques Wagner acredita que é preciso que mudanças aconteçam. “Não podemos colocar na contramão desenvolvimento social, e sustentabilidade”, afirma.

Do mesmo modo, Alicia Bárcena, Secretária Executiva da CEPAL, se coloca frente ao tema. Segundo ela, a crise da Saúde é parte da crise do clima.

Para ela, a crise econômica causada pela pandemia é sem precedentes, assim como o impacto social, que será terrível. Por isso, a CEPAL propõe não só para o Brasil, mas para toda a América Latina, uma renda básica universal.

Do mesmo modo, propõe também um aumento do espaço fiscal para financiar medidas efetivas de combate à pobreza, mudanças na estrutura de produção privilegiando igualdade e sustentabilidade e a adoção do estado de bem-estar social. Bem como promover integração regional e sub-regional para lidar com as mudanças da geografia econômica que estão por vir.

A União Europeia está se preparando

Representando parlamento da União Europeia, o deputado francês Pascal Canfin falou sobre medidas que estão sendo adotadas pelo velho continente. Ele, que é presidente do Comitê do Meio Ambiente da instituição, falou que hoje há um consenso da necessidade de barrar a crise do clima.

Além disso, segundo Canfin, a UE está à frente dos países da América Latina em relação à crise sanitária decorrente da pandemia e, portanto, já está em fase de implementação de políticas para uma transição verde.

Segundo o deputado, a maior parte das forças políticas que compõe a UE está a favor de reconstruir a economia após a crise sanitária, usando dinheiro público para acelerar uma transição para a sustentabilidade. Para tanto, serão investidos 750 bilhões de euros em atividades econômicas que não causem danos ao meio ambiente. “Nosso alvo não é o que existia antes, mas algo atualizado que está sendo formulado”, explicou Pascal Canfin.

Crises multilaterais, o clima, a pandemia e o racismo ambiental

No mesmo seminário, a deputada dos Estados Unidos Debra Haaland também trouxe notícias do primeiro mundo. Segundo ela, que é uma nativa americana, é preciso retomar conceitos dos povos originários das Américas. Nesse sentido, explicitou sua condição: “Estou conectada à terra e carrego o legado das gerações antes de mim, quero deixar para as gerações futuras a água, o ar e a terra”.

Para alcançar tal intento, Haaland conta que o principal objetivo dos defensores do meio ambiente nos EUA querem parar de queimar combustíveis fósseis. Dessa maneira, combater os efeitos nefastos do racismo ambiental, que prejudica as populações mais vulneráveis.

Haaland afirma que nos EUA, que assim como o Brasil tem altíssimo ritmo de contágio e mortos por covid-19, afroamericanos e indígenas têm uma taxa de mortalidade e hospitalização de 4 a 5 vezes maior do que os brancos. Isso, segundo a deputada, se deve às condições de saúde, moradia e ambiente onde vivem.

Por isso a nativa america acredita que um Novo Acordo Verde será uma via para a diminuição das desigualdades. Desta maneira, poderão ser criados trabalhos sustentáveis com uma transição para uma nova economia.

Porém, a deputada não é otimista: sabe que há muitos obstáculos a serem vencidos e o principal deles é o presidente do País, Donald Trump. Contudo ela se mantém forte, trabalhando com comunidades e outros atores do jogo político em uma direção ambientalmente correta.

A superação da covid-19 dará bases para enfrentar a crise climática

O seminário também contou com a presença virtual de Carolina Schmidt, Ministra do Meio Ambiente do Chile. Sua fala trouxe não só a questão ambiental, mas também as necessidades que precisarão ser superadas pela América Latina.

Schmidt espera uma contração econômica na América do Sul da ordem de -11,5%. Um número assustador, sobretudo pelos efeitos que as populações mais vulneráveis de países pobres sofrerão. Entretando, a ministra afirma quea superação da covid-19 dará as bases para enfrentar a crise climática que se anuncia.

De acordo com ela, nunca houve uma época melhor para apoiar as tecnologias de desenvolvimento sustentável. E que um novo mundo deve ser repensado. Ela está convencida de que ambição é um problema e que é necessário um caminho ético. Desse modo, acredita que hoje é possível melhorar a vida e o futuro das pessoas. E que o mundo precisa de uma recuperação sustentável e inclusiva.

Em síntese, a direção do encontro se deu pelas palavras do senador Jaques Wagner: “Não há como desligar a pandemia assim como o aquecimento global, a nossa casa é uma só, o planeta terra”.