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Economia de Francisco: visão global, ações territoriais

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Imagem do site Recontaai.com.br

A transformação econômica proposta pelo Papa no evento Economia de Francisco é global, mas ações são territoriais.

O encontro Economia de Francisco – que propôs lançar novas prioridades para a economia – foi precedido por pelo menos dois textos encíclicos lançados pelo Papa. De acordo com o estudioso Leonardo Boff, a Laudato si’ e a Fratelli Tuti mostram porque deve-se rejeitar a ordem econômica vigente e as bases na qual uma nova economia deve se assentar.

Boff afirma que ambos textos trazem uma mensagem de que as bases de uma nova economia devem levar em consideração o planeta. Além disso, precisa dar conta da interdependência da vida, humana e também em relação ao meio ambiente. A síntese desse pensamento pode ser encontrada em uma fala do própio Papa Francisco: “Ninguém se salva sozinho”.

A ordem econômica atual

A interpretação da crítica que Leonardo Boff faz dos textos do Papa coloca o neoliberalismo como a ideologia de continuidade que está matando as pessoas e o mundo. No mesmo sentido, Boff analisa que o individualismo é o vírus mais difícil de vencer da atualidade. Esta noção de individualidade está pondo em perigo as bases ecológicas que sustentam a vida, fazendo com que a grande ameaça na Terra seja a própria humanidade.

O neoliberalismo – que usa o individualismo como base – propõe e realiza um mundo sem projetos para todos.

A base de uma nova visão global

Para o Papa, a solução para a superação do individualismo é transformar os melhores sentimentos humanos – como amor e amizade – em prática. Boff afirma que essa concepção prevê que tais sentimentos deixem de ser experiências subjetiva de dois seres. E que se tornem uma prática voltada à humanidade. No mesmo sentido, buscam que tais sentimentos se transformem em uma expressão social que não exclui ninguém. Além do amor e da amizade, o Papa – segundo Boff – preconiza que a justiça social é a paz.

Esses valores estão presentes na dimensão da vida, de acordo com Boff. Contudo, ele e o Papa acreditam que pode haver a universalização: “Um novo sonho de amizade e fraternidade social”, afirma Boff. Entretanto, ele relembra que para o psicanalista Jung, o sonho é a profundeza do inconsciente e que ele antecipa as realidades futuras.

A invenção do futuro

Boff afirma que “precisamos reiventar a sociedade e reiventar o ser humano”. Um novo paradigma, que confronte o paradigma atual, segundo ele.

O teórico retoma os pais fundadores do nosso paradigma atual: Descartes, Nietzsche, entre outros que formaram a humanidade e legaram a ela a “vontade de potência”. De acordo com Boff, essa é a vontade de poder sobre todas as coisas. Segundo ele, isso acaba por dominar a Terra, a vida.

Como consequência desse tipo de pensamento, a Terra deixa de possuir um valor intrínseco, tendo seu valor somente na medida que o ser humano a ordena. E, dessa forma, surgiu a tecnociência.

A tecnociência

A humanidade construiu o princípio da sua própria autodestruição, ao mesmo tempo em que trouxe os antibióticos – entre outros benefícios – para a mesma população. Esse tempo é o tempo do dono. O ser humano é o dono e o senhor da natureza.

Para contrapor essa filosofia, o Papa em suas encíclicas propõe o conceito de fraternidade, ou uma irmandade universal. Inclusive, o conceito de irmandade vem da discussão de que é preciso incluir, também nos vocábulos, as mulheres. Boff afirma que esse é um projeto nunca realizado, mas que em contraposição ao punho cerrado do paradigma dominus (dono), ele é a mão aberta pra se entrelaçar com outras.

As ações territoriais

O desafio de como fazer a transição do dominus ao frater (irmão) foi deixado pelo Papa aos jovens de todo o mundo. Esse foi o objetivo dele ao chamar para o encontro mundial da Economia de Francisco.

Boff afirma que o objetivo é respeitar o caminho e os métodos de cada região. Essa é a dimensão territorial a que se refere o Papa Francisco. Conforme Boff: “É preciso lutar pelo mais concreto e local até a última pátria do mundo”.

Para tanto, parafraseia o Papa Fracisco, que pede aos povos que nunca esperem nada de cima, porque sempre vem algo igual ou pior. Por isso, os subalternizados devem fortalecer a democracia e deixá-la ainda mais paticipativa. Assim como devem desenvolver formas de produção e reprodução da vida que sejam ecológicas. A agroecologia e a busca da justiça social devem começar debaixo. E conclama que o conhecimento produzido seja para a vida e não para o mercado.

Transpor uma visão global para ações territoriais

A mudança da relação com o planeta, a forma coletiva de habitar a mesma casa e as mudanças na forma de produzir: tudo isso passam por mudanças territoriais.

Para tanto, é necessário que haja a autonomia entre as comunidades e uma refundação das sociedades.

Boff relembra que uma pequena porção da humanidade possui a mesma riqueza de 99% do resto. Portanto, propõe que a riqueza seja produzida nas regiões, respeitando o meio ambiente.