Nathalia Cassettari debate de forma lúdica a realidade do funcionamento da Educação à Distância (EaD) na pandemia.
Isto não é uma escola. Por: @meupedelaranjamecanicaEra uma vez, em um reino nem tão distante, uma professora que estava muito alegre com o início do ano letivo. Ela refletiu sobre sua atuação no ano anterior, avaliou o que havia dado certo e o que precisava melhorar, fez um planejamento cuidadoso, elaborando novas formas de apresentar o conteúdo e pensando sempre em como envolver mais os alunos e tornar as aulas mais dinâmicas.
O semestre começou e tudo corria muito bem, até que um monstro malvado chegou e ameaçou todos os cidadãos, principalmente os anciões, muito estimados em todo o reino. Para sobreviver, todos tiveram que ficar em seus castelos até que o monstro fosse embora.
Todas as aulas foram suspensas, mas a dona da escola, temendo que os pais deixassem de pagar as mensalidades e verdadeiramente preocupada com a aprendizagem dos alunos, pediu para que os professores preparassem atividades virtuais, o EaD. A dona da escola tinha muitos receios quanto a isso, mas não via outra saída. Ademais, era isso o que as outras escolas do reino estavam fazendo e até os príncipes pareciam dar todo o seu apoio.
A professora, desesperada, não sabia o que fazer e começou a chorar. Quando a primeira lágrima caiu, uma fada apareceu e disse que tudo se resolveria em um instante. A fada, então, espalhou seu pozinho mágico sobre o castelo da professora e todo o reino.
Nesse exato momento, a professora olhou para o seu planejamento e voilà! Ele estava todo adaptado para a educação à distância. Mas não era só isso, a professora sentiu uma dor de cabeça e assim percebeu que havia adquirido todos os conhecimentos técnicos e pedagógicos necessários para a elaboração das atividades.
Qual não foi a sua surpresa ao entrar em um dos cômodos do seu castelo e encontrar um monte de equipamentos novos, devidamente instalados: um computador, internet super rápida, tripé, microfone, etc.
Quando ela foi testar esses equipamentos, descobriu que ao ligar o computador todas as crianças e anciões que moravam no seu castelo imediatamente dormiam (sem que isso trouxesse quaisquer prejuízos para eles) e as vassouras e panelas ganhavam vida, adiantando todas as tarefas domésticas.
O pozinho mágico também se espalhou entre os estudantes. Imediatamente, o tempo na frente de telas como celulares e computadores, que antes podia trazer prejuízos e diminuir sua concentração, passou a provocar o efeito inverso, principalmente nos mais novos.
Os alunos também passaram a aprender mais e melhor sem o contato direto com o seu professor e com os seus colegas de turma. Eles ficavam muito felizes quando recebiam novas atividades e corriam para fazê-las com muito carinho e dedicação.
Assim como no castelo da professora, surgiram novos cômodos todos equipados e, enquanto os alunos faziam suas atividades, os outros moradores desfrutavam de um sono delicioso e as vassouras passavam a trabalhar sem parar. Não era nem preciso supervisão, pois as tarefas capturavam toda a atenção dos alunos e quaisquer dúvidas eram imediatamente solucionadas pela professora em seus vídeos.
As atividades desenvolvidas receberam elogios de todas as instituições e associações preocupadas com a educação das crianças do reino. Não houve sequer uma crítica.
Mais do que nunca, os estudantes estavam aprendendo e os professores contentes, realizados. É claro que durante todo esse processo houve a preocupação com a preservação da imagem dos professores e, deste modo, os vídeos só podiam ser acessados com finalidades estritamente educativas.
Quando o monstro finalmente foi embora, todos puderam retomar suas atividades como se nada tivesse acontecido. Ainda não existem dados concretos, mas a impressão de todos é que as desigualdades educacionais diminuíram. Os dias letivos e a carga horária foram preservados e todos viveram felizes para sempre.
Fim.
Nathalia Cassettari é professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.