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Duas opções para conter a inflação - e que o governo Bolsonaro não usou

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a culpa é minha inflação

Além de ser desmentido sobre o preço comparado da picanha no Brasil e no Canadá, Jair Bolsonaro tem que conviver com o fato de que o país ocupa a 3ª posição no ranking de maiores inflações do G20 - grupo que reúne os governos das 19 maiores economias nacionais do mundo e da União Europeia.

No grupo, apenas Argentina e Turquia tiveram taxas de inflação acumulada em 12 meses até abril de 2022 maiores que as do Brasil. Enquanto acumulávamos uma alta geral de 12,1%, nosso vizinho teve alta de 58% e o país do oriente-médio, liderando a lista, registrou variação de 70%.

Para a inflação acumulada até março (11,3%), o Brasil ficou acima da média do G20 (7,9%), do G7 (7,1%) e até mesmo da OCDE (8,8%), que inclui 38 países.

Opções

Enquanto as instituições públicas insistem no combate à inflação através da alta de juros - relegando a questão principalmente ao Banco Central - é possível pensar medidas a partir de itens que têm puxado os preços para cima.

Dois dos grupos de produtos que mais têm impactado a inflação são alimentos e combustíveis - dois itens que, aliás, desmontam o discurso bolsonarista de que o problema diz respeito ao fechamento da economia durante os períodos mais agudos da pandemia, ou, mais precisamente, de que se trata de responsabilidade de governadores e prefeitos que tomaram medidas restritivas.

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A principal questão envolvendo alimentos é alta do preço das commodities no mercado internacional. Uma das saídas passaria por conter os preços é evitar que a produção nacional se dirija à importação.

"Estoques reguladores não se fazem do dia pra noite. Mas é possível fazer com alimentos estocáveis e evitar bruscas oscilações de preços de alimentos importantes, como arroz, feijão, óleo de soja. E outras políticas nessa área utilizando compras descentralizadas na agricultura familiar, preços mínimos, crédito abundante, poderiam evitar explosões de preços de alimentos", diz Sérgio Mendonça, economista e diretor do Reconta Aí. "O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. O que tem prevalecido é o interesse dos exportadores e isso teria de ser enfrentado", complementa.

Combustíveis

A política de preços da Petrobras, por sua vez, tem sido apontada como principal fator para a elevação dos preços dos combustíveis, ao determinar que o preço praticado pelas refinarias deve ser o mesmo do que os importadores praticam.

Uma solução seria praticar preços com base nos custos de produção no Brasil, garantindo uma margem de lucro significativa para a empresa estatal.

Apesar de que a extração de petróleo em território nacional seria capaz de cobrir todo o mercado doméstico, inclusive por conta da privatização de algumas unidades, hoje a Petrobras não conta com capacidade de refino suficiente para garantir a autossuficiência. Isso exige uma saída de curto prazo, dada a dependência atual da importação de refinados.

"O problema de curto prazo é que uma refinaria leva de 2 a 3 anos para ser ampliada ou construída. Quando o país tiver autossuficiência em refino também, aí você poderá fazer uma política de preços totalmente baseada em custos domésticos e na tributação. E o preço poderia cair pela metade ou até mais. Aí teríamos que 'peitar' os acionistas privados e os importadores de petróleo. Atualmente, você teria que ter um mecanismo de financiamento de curto prazo, um fundo com recursos oriundo de imposto de exportação, por exemplo", defende Mendonça.

Para o ano de 2022, a previsão é de que a inflação supere novamente o teto da meta inflacionária - definido pelo próprio governo em 5%. Apenas entre janeiro a abril de 2022, o IPCA já tem variação acumulada de 4,29%.