Pesquisa recente do instituto DataFolha apontou que 69% dos beneficiários do Auxílio Brasil consideram os valores recebidos insuficientes. Levando-se em conta a variação inflacionária desde o primeiro pagamento realizado pelo programa, em novembro de 2021, é possível ter um indício das razões para a insatisfação: o benefício já perdeu R$ 24,22 para a inflação.
O Auxílio Brasil, cujo valor é de R$ 400, extinguiu o Bolsa Família e era a grande aposta de Jair Bolsonaro (PL) para deixar uma marca própria na área social - e colher possíveis frutos eleitorais.
A pesquisa do DataFolha, entretanto, apontou não só que a maioria (66%) dos beneficiários diz que o programa não influenciará seu voto, mas também que aqueles que recebem o Auxílio rejeitam mais Bolsonaro que a média dos eleitores.
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Inflação
O primeiro pagamento do Auxílio Brasil ocorreu em novembro de 2021. Todos os cálculos abaixo foram feitos na Calculadora do Cidadão, fornecida pelo site do Banco Central.
Levando-se em conta a variação do IPCA, indicador oficial da inflação no país, até abril de 2022, para que o benefício tivesse o mesmo poder de compra que em seu início o valor atualizado deveria ser de R$ 424,22 - ou seja, uma variação de 6,05%.
Caso fosse levado em conta o INPC - conhecido como "inflação dos pobres", já que mede a inflação sentida por famílias que tenham renda entre 1 e 5 salários mínimos mensais -, o valor atualizado deveria ser ligeiramente maior: R$ 424,55, um aumento de cerca de 6,14%.
O INPC é usualmente tido como critério para reajuste salarial. O critério de renda do indicador abarca metade da população brasileira.
Oposição
Durante o Auxílio Emergencial, a oposição ao governo federal conquistou o valor de R$ 600 no início da pandemia. O valor foi pago em cinco parcelas até agosto de 2020.
Agora, a oposição defende que o Auxílio Brasil chegue também a esse patamar.
Levando-se em conta a variação de preços desde o momento final do Auxílio Emergencial com esse valor - agosto de 2020 - até abril de 2022, o valor atualizado sofreria discrepâncias ainda maiores.
Pelo IPCA acumulado no período de agosto de 2020 até abril de 2022, para se ter o mesmo poder de compra do início, seriam necessários R$ 657,42, aumento de 9,57%.
Já pelo INPC, os R$ 600 de agosto de 2020, para serem atualizados, deveriam passar a ser R$ 722,48. Ou seja, pela repor os seiscentos originais em seu poder de compra, seria necessária uma elevação de 20,4%.
Para melhor compreensão, isso significa que a população que ganha entre 1 e 6 salários mínimos, perdeu 20 centavos a cada 1 real que ganhava em agosto de 2020.