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Crise hídrica: farsa ou realidade?

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Recentemente, a imprensa deu espaço a uma análise feita pela Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) sobre a crise hídrica. De acordo com a nota, o "discurso de seca na região sudeste camufla a realidade e serve para justificar aumentos abusivos na conta de luz do povo brasileiro".

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já informou que haverá aumento na taxa da conta de luz em julho. Segundo a Agência, o Operador Nacional do Sistema (ONS) tem registrado 'recordes históricos' de níveis críticos na quantidade de chuvas sobre os principais reservatórios.

Para Íkaro Chaves, engenheiro eletricista da Eletronorte e presidente da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras, a falta de chuvas é real.

"Os dados que nós temos são de que a energia afluente nos reservatórios foi bem abaixo da média histórica", disse, supondo que não daria margem para uma negociata nesse nível. Segundo o engenheiro, o que está acontecendo é uma crise hídrica - falta de chuvas - em uma determinada região, que engloba Minas Gerais, São Paulo e Goiás. Essa região possui 70% da capacidade de armazenamento do País.

"Estamos tendo muito água, muita chuva, em outras regiões do País, como Norte, Sul e até no Nordeste, mas lá não se encontra o 'grosso' da capacidade de armazenamento. Por exemplo, a usina de Tucuruí está com 99% de armazenamento, mas nessa região central está efetivamente chovendo pouco", explica Chaves.

2020 trouxe queda no consumo de energia elétrica

Chaves aponta que no ano passado, houve uma queda expressiva no consumo de energia. Porém, essa queda foi localizada: "Chegamos a ter mais de 11% de queda de consumo no mês de abril, mas depois houve recuperação", afirmou o engenheiro.

Entretanto, alerta que na média do ano passado, houve uma queda de consumo de apenas 1%. Isso ocorreu porque no final de 2020 já havia crescimento de consumo em comparação ao mesmo período de 2019.

O grande despacho das hidrelétricas

Houve um despacho muito grande da energia hidrelétrica entre maio e junho de 2020. Porém, segundo Chaves, aumentar a geração hidrelétrica nesse contexto fazia sentido, já que é mais barata e o consumo havia caído. "Se o consumo caiu e tem mais água armazenada, faz sentido gerar essa energia mais barata", explica.

A questão, de acordo com ele, é que houve uma recuperação do consumo desde o período chuvoso do ano passado, até abril desse ano. Mesmo sabendo que o período chuvoso de 2021 seria fraco, Chaves aponta que o Operador Nacional do Sistema continuou despachando 'muita' energia hidrelétrica.

Na opinião do engenheiro, o motivo disso ter acontecido deve que ser investigado. Segundo ele, quem ganha com isso são os grupos que controlam as geradoras termelétricas. "Eles ficam parados, ganhando somente para estar à disposição, mas quando eles começam efetivamente a despachar energia, quando eles deixam de ser backup, ganham pela parcela do aluguel e pela geração energia", explica.

A crise hídrica existe e é real

O engenheiro acredita que abrir as comportas da geração de energia de hidrelétricas não ocorreu intencionalmente para beneficiar os grupos que controlam as termelétricas. Porém, ressalta: "Se esse era o plano, de fazer com que alguns operadores ganhassem mais, certamente o governo errou na dose pois hoje vivemos um risco real de racionamento".

Chaves explica que existe chance de haver racionamento nesse ou no próximo ano - e "não parece que seja bom para o governo". Por fim, Chaves fez questão de ressaltar que, apesar de respeitar muito o trabalho do MAB, acredita que a crise hídrica existe e é real .

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