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Covid-19: Vacinação começa, mas continuidade está em risco por falta de insumos

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A vacinação começou no Brasil no dia 17 de janeiro; porém, com a falta de insumos, sua continuidade está em risco.

Para o especialista em saúde pública e pesquisador da Fiocruz, Hugo Almeida, a vacinação dos brasileiros contra a Covid-19 não tem data para ter fim. Segundo ele, o País não tem vacinas suficientes nem para imunizar o grupo prioritário, composto por trabalhadores e trabalhadoras da área de saúde.

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Almeida afirma que apesar da autorizaçãoo emergencial de duas vacinas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no último domingo (17), ainda há muito a ser feito. Nesse sentido, o profissional afirma que o gargalo para a imunização rápida da população não é o SUS, mas sim as atitudes do governo.

As vacinas disponíveis

Hugo Almeida esclarece que há duas vacinas disponíveis no Brasil: ambas fruto da colaboração de laboratórios nacionais – a Fiocruz e o Instituto Butantan – e com laboratórios internacionais.

Da CoronaVac – vacina da farmacêutica chinesa Sinovac que está sendo desenvolvida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan – a Anvisa liberou emergencialmente as 6 milhões de doses disponíveis. Em relação à vacina da AstraZeneca, fabricada em colaboração com a Fiocruz, foram liberadas 2 milhões de doses.

Entrentanto, para atender à grande demanda do País, Hugo Almeida afirma que o Instituto Butantan já fez um novo pedido de liberação emergencial para mais 4 milhões de doses que possui. E relembra que ainda há a expectativa de outros 2 milhões de doses da Índia, mesmo que ainda sem previsão de chegada.

A falta de insumos

Para chegar à fase de aplicação das vacinas na população, há antes um longo caminho. Ele vai desde a negociação, passando pela produção dos imunizantes, a logística de distribuição, a campanha de comunicação e a chegada das doses no posto.

Parte dessa cadeia necessária à vacinação é de responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, o gargalo têm sido as ações do Governo Federal.

Como se não bastasse o governo não ter aceitado negociar com a Pfizer, Moderna e Sputinik – três das primeiras vacinas aprovadas em todo o mundo, a diplomacia brasileira vem errando nos acordos com Índia e China.

Além de serem os maiores produtores de vacinas do mundo, estes países também produzem os insumos necessários à fabricação das vacinas Fiocruz e Butantan. Por isso, o Brasil amarga hoje a posição entre os países que estão no início da imunização.

Grupos prioritários para a vacinação

O primeiro grupo a ser vacinado são os trabalhadores de saúde. De acordo com Hugo Almeida, que além de pesquisador é enfermeiro, isso acontece por uma questão operacional. “Além da exposição à doença, os profissionais é que operacionalizam a vacinação da população”, explica. Porém, o profissional alerta: “A quantidade de doses disponibilizadas não é suficiente ainda”.

No mesmo sentido, Hugo Almeida afirma que os segundos da lista de prioridades são idosos moradores de casas de longa permanência, como casas de repuso e de acolhimento. Ao mesmo tempo, serão vacinados indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais sem convivência urbana e, portanto, mais vulneráveis à doença.

Almeida destaca ainda que para atender esses grupos, não haverá necessidade de montagem de estrutura de vacinação. “Os profissionais da área de imunização se deslocarão até esses pontos, sejam casas de acolhimento, sejam aldeias, para levar as vacinas e imunizar a população”.

O SUS é referência em imunização

“Temos um programa nacional de imunização da década de 1970 com o histórico de erradicar doenças”, afirma Hugo Almeida. O programa é anterior ao SUS, mas se adequa perfeitamente ao sistema de saúde pública brasileiro.

Junto com expertise adquirida com o Programa Nacional de Imunização há a grande capilaridade do SUS, que está em todo o País. Assim, com as vacinas desenvolvidas no Brasil não necessitando de nada além da rede de frios (geladeiras e freezers) já existentes, bastaria apenas as doses estarem disponíveis para vacinar com rapidez a população. “O Brasil já vacinou 80 milhões de pessoas em três meses durante a pandemia de H1N1”, relembra o pesquisador.

Laboratórios de referência internacional

Assim como o Programa de Imunização brasileiro, os laboratŕorios Fiocruz e o Butantan também são referências. Contudo, mesmo referenciados em relação à produção de vacinas, precisam dos insumos que precisam ser adquiridos pelo Governo Federal.

No entanto, esse não é único garagalo do plano de vacinação atual. Há também a falta de insumos básicos, como agulhas e seringas para que a vacinação ocorra. Por isso, Hugo Almeida afirma: “É importante manter essa pressão contínua pela vacinação de toda a população”.

O medo e a possibilidade de uma baixa taxa de vacinação

“A vacinação é uma questão de saúde coletiva”, aponta Almeida. “A tão falada imunidade de rebanho não é fruto de muitos pegarem a doença, mas sim, de muitos serem imunizados”, reforça.

De acordo com o profissional, a possibilidade de uma baixa taxa de vacinação no Brasil tem mais raízes na precarização do SUS, com a dimunição dos grupos de saúde da família, do que pessoas que se negam a tomar a vacina. Em outras palavras, o desmonte do SUS pode gerar uma baixa taxa de cobertura vacinal.

Incentivos à vacinação em massa

“É preciso induzir as pessoas a se vacinarem de diferentes maneiras. Por exemplo, com as condicionalidades do Bolsa Família”, afirma o especialista. Contudo, quando perguntado sobre a possibilide de demissão por justa causa para trabalhadores que recusarem tomar a vacina, Hugo Almeida acredita que a vacinação deve ser demanda dos trabalhadores.

“A vacinação tem que ser construída pelos sindicatos como perspectiva de saúde pública e saúde do trabalhador”

Hugo Almeida

No mesmo sentido, Almeida defende que a Covid-19 seja considerada uma doença associada ao trabalho para muitas categorias profissionais, como forma de proteger o trabalhador. De acordo com ele, essa tendência de demissão por justa causa é uma coisa inerente da relação capital trabalho e não às questões sanitárias.