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Conta de luz: "Não sei até onde vai a criação de bandeiras adicionais", desabafa engenheiro elétrico

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Conta de Luz

Ao contrário do que disse o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em cadeia nacional na última terça-feira (31), a crise enérgica pela qual o Brasil passa não tem causas naturais. Segundo Íkaro Chaves, engenheiro eletricista da Eletronorte e diretor da AESEL (Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras), a falta de energia elétrica não é culpa apenas da falta de chuvas, mas principalmente por causa dos erros de planejamento e operação do sistema elétrico do governo.

O engenheiro explica que, de acordo com seus cálculos, de janeiro até agora, com os reajustes e a utilização de diferentes bandeiras tarifárias, a conta de luz do consumidor já aumentou em média 30%. E explica que a utilização de bandeiras tarifárias na conta de energia já é um racionamento [racionamento por demanda]. "A utilização das bandeiras denota que o Governo não cumpriu a parte dele. Ao consumidor não cabe sempre pagar pelos problemas do setor elétrico, já que ele é de responsabilidade da União", afirma o engenheiro.

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"Desde o ano passado já estava claro que viveríamos um período de escassez hídrica", disse. "O Governo Federal ao invés de reservar energia nos reservatórios, despachou tudo até março", completa. Segundo ele, chegou-se a uma situação tão compexa que houve a criação de uma bandeira adicional.

Privatização da Eletrobras interferiu negativamente no agravamento da crise

A ânsia privatista do ministério da Economia colocou em xeque a segurança elétrica do Brasil. De acordo com Chaves, desde o golpe de 2016 a Eletrobras está proibida de realizar investimentos - o que prejudica a necessária expansão do setor energético nacional. "Tal qual aconteceu na década de 1990, quando a Eletrobras também foi proibida de fazer investimentos pelo governo Fernando Henrique, estamos vendo as consequências disso hoje", afirma Chaves.

O engenheiro esclarece que é a Eletrobras que faz os grandes investimentos do setor no Brasil, e se aprofunda: "Principalmente em hidrelétricas, que é o que o Brasil está precisando hoje, capacidade de armazenamento de energia, que só se faz com hidrelétricas". Segundo ele, a estatal de energia foi proibida de fazer investimentos porque está sendo preparada para a privatização.

Dessa forma, cabe às empresas privadas ampliarem a capacidade energética no País. Contudo, como a principal finalidade das empresas privadas é o lucro, fazem esse trabalho com um alto custo para a população. O setor privado vem investindo em usinas termelétricas com um preço "salgado" para o consumidor final. "Para se ter uma ideia, em certos locais, a Eletrobras vende energia a R$ 50 o Megawatt-hora (MWh); já as termelétricas hoje chegam a vendender a o MWh a R$ 3 mil", informa Chaves.

Criação de bandeiras tarifárias foi um avanço, mas a bandeira da escassez hídrica pode ser retrocesso

De acordo com Chaves, a criação das bandeiras tarifárias em 2015 foi um avanço. "Antes da criação das bandeiras tarifárias, o custo adicional da geração de energia era pago pelos consumidores no ano subsequente com juros", explica Chaves. No mesmo sentido, relembra: "Quando elas foram criadas, em 2015, nós também vivíamos uma crise hidroenergética".

Outro objetivo da criação das bandeiras foi alertar ao consumidor para que diminuísse o consumo em situações excepcionais de crise hídrica. Entretanto, a falta de planejamento dos governos Temer e Bolsonaro estão fazendo com que as bandeiras sejam utilizadas de forma abusiva.

E agora, com a criação de uma bandeira tarifária extra, o sentido pode se perder ainda mais. Chaves opina que a criação da bandeira da escassez sinaliza que Governo pretende manter a bandeira vermelha por muito tempo. "Então ele [o Governo] criou uma bandeira adicional porque se lá no futuro ele quiser voltar atrás, ele não volta para bandeira de nível 1 ou mesmo a bandeira amarela, voltará a bandeira vermelha".

Chaves também afirma que essa crise tem beneficado os empresários do setor das termelétricas: "Tem pouca gente ganhando muito dinheiro com essa crise que estamos vivendo".

Sobre o futuro, o engenheiro é pessimista: "O que está se desenhando para os próximos meses é que a volta do período chuvoso ou atrase ou seja muito fraca por conta do fenômeno La Niña que está se formando no Oceano Pacífico".