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Como é viver só com o auxílio emergencial?

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Imagem do site Recontaai.com.br

Entre o medo da pandemia, a criação dos filhos e a responsabilidade com a comunidade, Andressa conta como é viver com o valor do auxílio emergencial.

Foto: Reprodução das redes sociais do Projeto Minha Identidade

Andressa é mãe e está separada do pai de seus dois filhos, uma situação comum no Brasil e no mundo. Contudo, ela está desempregada e vive em uma das maiores e mais pobres comunidades de Brasília. E, para proteger a si e aos seus filhos da Covid-19, tem uma casa de madeirite e o auxílio emergencial.

Morar na favela é viver em comunidade

Santa Luzia é um setor da Cidade Estrutural, a região mais pobre do Distrito Federal. Lá, grande parte das casas não possui água encanada ou eletricidade; já a rede de esgotos é inexistente em todo o local. Em contrapartida, não falta violência – dos traficantes e do estado.

Lá vivem Andressa e seus dois filhos pequenos, em uma casa de chapas de madeira com acesso à água e luz, e mais um quarto. Contudo, a realidade dos moradores em volta a incomoda: de acordo com ela, foi tocando o Projeto Minha Identidade que conheceu mais e melhor o local onde mora.

Andressa começou no projeto como assistida e hoje o coordena, praticamente sem ajuda. Segundo relata, o objetivo principal do projeto é acolher jovens com depressão, vítimas de violência sexual e do tráfico de drogas, ao mesmo tempo em que busca captar e distribuir roupas e alimentos.

De 2019 a 2020, o projeto – que não conta com apoio algum – perdeu 17 adolescentes de 12 a18 anos. Andressa relata que mesmo em articulação com o CRAS e o Conselho Tutelar, não foi capaz de mantê-los vivos. Mesmo assim, ela prossegue e ainda afirma que o envolvimento dos jovens com as imensas necessidades da comunidade é benéfico tanto para eles, quanto para os outros moradores. E ainda afirma: “É gratificante fazer os adolescentes terem essa visão”, disse, referindo-se à solidariedade.

A chegada do auxílio emergencial

Antes do auxílio emergencial, Andressa sustentava a sua família com R$ 147,00 do Bolsa Família. Contudo, com a chegada da pandemia, conseguiu receber a cota para mulheres chefes de família do auxílio emergencial: R$ 1.200.

De acordo com ela, a primeira providência que tomou ao receber o benefício foi comprar um celular para que os filhos pudessem acompanhar as aulas à distância. “Eu investi o dinheiro no aparelho porque sabia que no mês que vem teria novamente”, contou.

Conquistado por uma união rara da oposição ao governo Bolsonaro, o auxílio emergencial tem sido a diferença entre viver e morrer de fome durante a pandemia.

Entretanto, não foi somente a família de Andressa a beneficiada: ela usa parte do auxílio para alimentar os adolescentes do projeto para seguir fazendo-o acontecer. E, dentro da comunidade, das 1.800 famílias atendidas pelo projeto, somente 500 conseguiram receber o valor máximo do benefício. Mesmo que entre essas famílias existam mães com cinco, seis e até nove filhos.

“Não há dinheiro que pague a nossa paz”

“O auxílio é bom, mas eu quero mesmo é o fim da pandemia”, desabafa Andressa. Segundo ela, a vida hoje é muito mais difícil e triste – mesmo que com a falta de correção pela inflação, a renda do Bolsa Família chega apenas a 12,25% do valor do auxílio emergencial.

Andressa também se compadece da situação de outras mães do Santa Luzia. “Há mães na comunidade que vivem em um quadradinho com nove filhos”, relata. Essa impossibilidade de fazer o isolamento social teve reflexos na mortalidade por Covid-19 na região. A Cidade Estrutural foi campeã no número de mortes por 100 mil habitantes até meados de junho, quando foi ultrapassada por outras regiões administrativas.

De acordo com Andressa, a situação atual foi bastante diferente do lançamento do Bolsa Família. Sobre a época, ela relata: “As mães puderam comprar comida para os seus filhos”, diz em oposição a hoje, que é possível comprar comida, mas não assegurar saúde e educação.  Ao final, Andressa afirma: “Não há dinheiro que pague a nossa paz”.