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Brasil contabiliza as termelétricas mais poluidoras pela 1ª vez

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termelétricas mais poluidoras

Doenças respiratórias, dores de cabeça, doenças cardiovasculares, ansiedade e até impactos no sistema reprodutivo: a poluição atmosférica é um problema mundial com impactos diversos sobre as pessoas e sobre a natureza, segundo a Organização Mundial de Saúde. Além dos problemas imediatos, a poluição atmosférica é ainda a principal responsável pelas mudanças climáticas, como mostra o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU).

Contudo, ainda hoje a humanidade precisa queimar combustíveis fóssei para se locomover e para gerar energia. O Brasil, por exemplo, teve um crescimento de 177% de geração e eletricidade por termelétricas movidas a carvão mineral e derivados do petróleo nas duas últimas décadas, o que trouxe um aumento de 90% de geração de gases do efeito estufa no setor elétrico no mesmo período.

Os dados foram obtidos pelo Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétrica, um estudo inédito feito pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) lançado hoje (30). De acordo com Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do IEMA e coautor da pesquisa, “O Inventário também traz como destaque interessante o fato de as emissões de gases de efeito estufa estarem concentradas em um número relativamente pequeno de usinas”.

As termelétricas mais poluidoras

De acordo com o inventário, 94% das emissões de dióxido de carbono (CO₂) foram provenientes de metade das 72 usinas pesquisadas. As dez térmicas que mais emitiram CO₂ responderam por 49% do poluente contabilizado em todo o inventário.

10 termelétricas mais poluidoras do Brasil
1. Candiota III (RS)
2. Pampa Sul (RS)
3. Porto do Pecém II (CE)
4. Jorge Lacerda I e II (SC)
5. Jorge Lacerda III (SC)
6. Arembepe (BA)
7. Jorge Lacerda IV (SC)
8. Porto do Itaqui (MA)
9. Porto do Pecém I (CE)
10. Global I (BA)

Eficiência energética

Além de mostrar as termelétricas mais poluidoras, o inventário ainda aponta as usinas com a pior eficiência energética. "A eficiência energética de uma usina termelétrica indica a parcela da energia liberada pelo combustível que é convertida em eletricidade", explica o IEMA.

"Quanto menor a eficiência de uma usina, maior o volume de combustível que ela precisa queimar para gerar a mesma quantidade de eletricidade que uma usina mais eficiente geraria. Ou seja, usinas menos eficientes queimam mais combustível e, consequentemente, emitem mais gases do efeito estufa por gigawatt-hora (GWh) produzido", disse.

Raissa Gomes, pesquisadora do IEMA e coautora do estudo, explica: “Nas cinco piores posições do ranking, ou seja, entre as cinco usinas com os menores índices de eficiência energética, quatro utilizam o carvão como combustível”.

O estudo pesquisou 72 usinas termelétricas, sendo 36 tendo gás natural como combustível principal, 8 o carvão mineral, 17 óleo combustível e outras 11 o diesel. Todas elas prestam serviço público e estão conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Segundo o IEMA, elas produziram 54,1 TWh de eletricidade e 32,7 milhões de toneladas de CO₂ e no ano de 2020.

Impactos ambientais, na conta de luz e no futuro do Brasil

Segundo o IEMA, além de todos os prejuízos às pessoas e ao meio ambiente, a opção por termelétricas, sobretudo as de baixa eficiência, ainda têm consequências no bolso dos consumidores. André Luis Ferreira, diretor-executivo do IEMA, alerta: "Essas usinas contribuem significativamente para o encarecimento das contas de eletricidade”.

Conforme as medidas aprovadas pelo presidente Bolsonaro e pelo Congresso Nacional na última legislatura, esses impactos - incluindo uma conta de luz mais cara - se perpetuarão por muito tempo. Durante o período de escassez hídrica em 2021, causado pela falta de chuvas e principalmente por causa de erros do governo no planejamento e operação do sistema elétrico, segundo especialistas, o governo aprovou leis que favorecem esse tipo de geração de energia.

Entre 2026 e 2030 existe a previsão 8.000 MW gerados por termelétricas entrem no sistema. Além disso, o governo ainda se dispôs a continuar a pagando subsídiosàs usinas a carvão mineral até 2040, a alternativa mais poluente e menos eficiente segundo o estudo.

“Esse estudo evidenciou que há uma longa distância a percorrer no Brasil”, conclui Ferreira.

O Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas do IEMA

As informações estarão disponíveis para consulta no site do IEMA e podem ser obtidas clicando aqui. O Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) foi fundado em 2006, cujo propósito é qualificar os processos decisórios para que os sistemas de transporte e de energia no Brasil assegurem o uso sustentável de
recursos naturais com desenvolvimento social e econômico.