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Ataque ao aplicativo do iFood traz preocupações em relação às eleições em 2022, diz especialista em tecnologia

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eleições

Vencidos os ataques às urnas eletrônicas, a relação entre tecnologia e as eleições de 2022 volta a preocupar especialistas em tecnologia e democracia. Isso porque na última terça-feira (2), o iFood - principal aplicativo de entregas no Brasil - sofreu um ataque que culminou com a alteração do nome de 6% dos restaurantes de sua base de dados, segundo nota enviada à imprensa.

Os nomes dos restaurantes e mercados que utilizam a plataforma foram alterados com mensagens em apoio ao presidente Jair Bolsonaro; críticas ao principal adversário do bolsonarismo, o Partido dos Trabalhadores; mensagens que desacreditaram Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada em 2018, além de mensagens que exaltam o principal concorrente da plataforma.

Printscreen da tela do aplicativo feita pela jornalista Laíza Félix no dia 2 na cidade de Natal (RN)

A nota publicada pelo iFood logo após o ataque deu conta que a alteração não foi um hackeamento à distância, como se especulava. E sim que partiu de um funcionário de uma empresa terceirizada que tinha acesso à plataforma para ajustar informações cadastrais dos restaurantes aos estabelecimentos comerciais inscritos.

Novas tecnologias, novas preocupações

O especialista em tecnologia Paulo de Tarso, um dos idealizadores da campanha Salve Seus Dados, explica que há diversas possibilidades de terrorismo digital durante as eleições de 2022. Algumas mais preocupantes do que outras. "A invasão de sites e aplicativos de partidos e canais de notícias podem causar alguns transtornos, mas eu os considero de baixo impacto porque tem um alcance limitado e rapidamente podem ser noticiados e consertados", explicou o especialista.

No mesmo sentido, Paulo de Tarso revela que outras ações digitais podem atrapalhar o exercício da democracia, como "a construção de vídeos falsos com a tecnologia deep fake e a manipulação de sites oficiais ou de notícias para parecerem verdadeiros", que segundo ele, "podem confundir muitas pessoas".

Contudo, para o especialista, a principal questão que fere a democracia são as notícias falsas. "Na minha opinião, a grande ameaça tecnológica às eleições continua sendo as fake news que já venceram eleições diversas ao redor do mundo e continuam sendo uma deturpação muito grande do processo de escolha democrática".

Terrorismo digital

Uma preocupação adjacente às fake news é a velocidade com que as notícias falsas se propagam. "O uso indiscriminado e não fiscalizado dessas tecnologias ao longo de vários meses, em ferramentas como WhatsApp e Telegram, pode levar pessoas a viverem numa verdadeira realidade paralela, interditando qualquer possibilidade de debate político", afirma o especialista.

Essa situação já pode ser observada em grupos antivacina no Telegram, por exemplo. Neles, a troca de notícias falsas, divugadas por sites não confiáveis, faz com que os participantes pareçam estar em uma seita, em que teorias da conspiração tranformam-se em realidade que a humanidade não enxerga. O perfil de twitter "Prints bolsonaristas" se dedica a mostrar o nível do "debate" em tais fóruns.

O custo da mentira para a democracia

"Nós ainda perdemos muito tempo e energia tendo que combater e desmentir informações falsas", aponta Paulo de Tarso. O especialista lamenta esse tempo gasto em detrimento da discussão de projetos políticos adequados ao País em meio às eleições.

Ainda segundo ele, a projeção é que a tecnologia esteja muito presente nas eleições de 2022 e informa: "Infelizmente, tudo isso não é nenhuma previsão genial do futuro, mas já foi bastante demonstrado que existe e como funciona".