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Artigo | O Ano Interminável – uma sincera mensagem de boas festas

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“A luz que vem de um clarão
Chama que não se apaga
Reflete a fé no coração
E guia a minha estrada
Intensa como devoção
Divina como uma prece
Abrindo os caminhos, meu pai, de quem merece”
(Gusttavo Clarão e Moacyr Luz)


Nas redes e nas ruas escutamos vozes. Caso não seja esquizofrenia, elas rezam por votos de que o ano que vem seja melhor para todos. Este ano noturno, um pesadelo sem fim, que iniciou-se em 31 de agosto de 2016. Já são 52 meses, e as vozes dizem que, enfim, 2016 irá terminar.

De lá para cá, assistimos ao País que conhecíamos derreter ante nossos olhos. Além de um impedimento de uma presidenta e da prisão do candidato mais popular, tivemos de assistir à festa dos chacais tripudiando sobre os lamentos de suas presas: nas rádios e tevês, nos tribunais e templos, apenas valores e razões dos predadores ganharam espaço.

Vimos sentados a perda de direitos trabalhistas, os empecilhos criados à aposentadoria, a retomada do poder pelos militares, a ascensão do obscurantismo, a venda crescente do patrimônio nacional, o maior desemprego da história, o fim do Estado social e ataques contínuos às áreas da Educação e Saúde públicas, o desmantelamento da indústria, a inflação proibindo os alimentos básicos, as políticas interna e externa julgando direitos humanos como perversões, o ódio tomar as ruas, a fome voltar às casas, a miséria desfilar nas cidades e nos campos…

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Tornamo-nos um aleijão. Uma nação de negacionistas e neoliberais que serviu de chacota para o restante do planeta. E, para completar o cenário, na última parte desta noite escura, vimos a pandemia espraiar-se sem amarras, estimulada, com 200 mil mortes comemoradas com gargalhadas por um governo de hienas. No cenário deste último mês – as vozes garantem que este quinto dezembro é o mês derradeiro – percebemos que o Auxílio que garantia a subsistência dos mais pobres chegou ao fim. E que somos o único lugar do mundo sem perspectivas sólidas para a vacina. Mas as vozes garantem que, em meio à Peste, à Fome e à Morte, as Boas Festas estão chegando. Então só nos resta deixar aqui os nossos votos. Sem nenhum desejo exorbitante.

Que a dor da realidade possa nos iluminar. Que caiam as cortinas brilhantes erguidas por quem nos narra este mundo, que desvelem o cenário de caos e indignidade. Que cada um enxergue o exato lugar que ocupa neste arremedo que outrora foi um país. Que sequem as fontes da ilusão.

Que possamos refundar um sistema democrático, onde o judicialismo que nos extinguiu seja punido e ostracizado, onde o Parlamento não seja um shopping e a representatividade política não seja um mero produto do poder econômico.

Que a Justiça salve ao menos alguns parágrafos da Constituição. Que os seus ambientes não sejam de pompa e exceção. Que seus membros tenham origens populares. Que seus privilégios sejam cassados. Que juízes sejam julgados.

Que seja finalmente fundado o Jornalismo neste país. E que seus praticantes não sejam cães de guarda de uma dúzia de famílias ricas. Que sejam criadas as Forças Armadas, que protejam os interesses e a população deste país, e que não sejam nem os sabujos de uma dúzia de famílias ricas e tampouco cadelas dos interesses estrangeiros.

Que o funcionalismo público, que chegou a construir este País, seja visto com o respeito que um carteiro, um bancário, um professor ou uma enfermeira merecem. Que escapem da fúria da mídia e da pecha de nababos togados ou fardados, que não os representa.

Que os mercadores da fé a tenham, ao menos do tamanho de um grão de mostarda.

Que o Trabalho ganhe o espaço déspota do Capital. Que os banqueiros, os reis pop do agro, os donos dos meios de comunicação, os bem nascidos e privilegiados sejam no máximo acionistas minoritários das instituições e do governo, e não seus orgulhosos proprietários. E que sintam o medo, finalmente.

Que os que se pensam no topo desabem da pior maneira possível. Que as pessoas desprezem as aparências do topo. Que os excluídos enxerguem que quem está no topo jamais os representou, e que de nada vale o topo se a base é miserável e não pode alcançá-lo. Que as pessoas valham por estarem vivas e pelo que são, e não pelo que tem ou por quanto se venderam.

Que a cidadania sobrepuje o mercado. Que as pessoas entendam que, na nossa sociedade, liberdades individuais são a pauta dos que já as têm, é o tecido social que precisa ser refeito. Que solidariedade é um valor social obrigatório, e não uma dádiva filantrópica de ricos bondosos. E que se importar com seus iguais não significa sentir pena pelos encargos de seu patrão. E que se reconhecer no cotidiano de seus iguais é mais belo e valoroso do que ouvir youtubers, milionários ou coaches da grande mídia.

Que nos lidere alguém que lute para que todos tenham ao menos três refeições ao dia, casa, escola e trabalho. Que saiba o que é a pobreza e que as pessoas não escapam dela por mérito. Que a luz seja para todos. Que o alimento produzido no campo chegue a todas as mesas. Que o sistema de saúde seja universal. Que, apesar das dificuldades, caminhemos para ser um celeiro de vida, e não este abatedouro em que hoje vivemos.

Que no fim deste 2016 vejamos Lula recuperar seus direitos políticos. Que tenhamos Lula livre, enfim. Só assim seremos livres novamente e um novo ano se iniciará.

Não é pedir muito. E é só o que se pode pedir. Feliz 53o mês de 2016 a quase todos. São muitas ondas a pular. Que cada um de nós faça jus a um novo ano.