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Alta do IGP-M é uma espada sobre a cabeça dos inquilinos

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Imagem do site Recontaai.com.br

Índice utilizado para reajustar os aluguéis, o IGP-M já acumula alta de 14,4% no ano, o que preocupa inquilinos em meio à crise causada pela pandemia de coronavírus.

A jornalista Laíza Félix mora em um apartamento alugado na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, há três anos. Durante esse tempo, passou por dois reajustes de aluguel sem grandes problemas. Contudo, durante a pandemia, mesmo sem perda de renda, teve seus gastos aumentados. E hoje, teme que o reajuste do seu aluguel – que pode chegar a mais de 15% se o indexador utilizado for o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) – a force a economizar ainda mais. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou nesta terça-feira (29) os valores do indicador, que já acumula alta de 14,4% no ano de 2020 e de 17,94% levando-se em conta os últimos 12 meses.

“Teria como pagar [o aluguel] ainda porque mudar acarretaria outros gastos, e implicaria em sair para ver imóvel, realizar a mudança, uma exposição que acho inconveniente agora”, desabafa a jornalista.

Contudo, a história de Laíza Félix não é partilhada por grande parte dos brasileiros que mora de aluguel. Com altos índices de desemprego no Brasil, cerca de 12,8 milhões de trabalhadores desempregados e 5,7 milhões de desalentados, segundo o IBGE, as 18,3% de moradias alugadas no Brasil podem ser desocupadas, mesmo sem o reajuste previsto.

Os inquilinos devem se preocupar?

O câmbio alto já tem complicado a vida dos brasileiros nas compras em supermercados e agora pode impactar diretamente na moradia – um direito humano previsto na Constituição brasileira.

Segundo o economista Sérgio Mendonça, existe uma tradição de usar o IGP-M para corrigir aluguéis. Entretanto, ele explica que isso não é o adequado: “O IGP-M é um índice que é fortemente afetado pela variação do dólar. O que não tem nada a ver com a inflação doméstica diretamente”.

Contudo, Mendonça acredita que a maioria dos proprietários não corrigirá seus aluguéis pelo índice no meio desta recessão. Mesmo assim, de qualquer forma “é uma espada na cabeça dos inquilinos”.

Tal projeção já pode ser vista em grandes cidades. “Por conta da situação da pandemia, não está havendo reajustes nos alugueis”, aponta Marcia Garcia, corretora de imóveis em Brasília. Ela afirma que está acontecendo o oposto: “Para manter os inquilinos nas unidades, os proprietários estão dando descontos”, enfatiza.

O que é o IGP-M?

O IGP-M é o Índice Geral de Preços do Mercado. Ele é medido pela Fundação Getúlio Vargas desde 1989 e tem, como variáveis, desde o preço das matérias-primas até bens e produtos finais. Esse é o motivo pelo qual a taxa de câmbio o influencia tanto.

Para chegar ao resultado do IGP-M, outros índices entram no cálculo, como o IPC-M (Índice de Preços ao Consumidor – Mercado), IPA-M (Índice de Preços por Atacado – Mercado) e INCC-M (Índice Nacional do Custo da Construção – Mercado). Cada um deles possui peso diferente no cálculo e assim, chega-se ao valor do IGP-M.

Com o dólar em alta, as matérias-primas e commodities ficam mais caras para o mercado interno brasileiro devido às vantagens financeiras de exportá-las. Assim, a taxa do IGP-M é “puxada” para cima.