Pular para o conteúdo principal

Agrotóxicos: resíduos em alimentos colocam em perigo a população

Imagem
Arquivo de Imagem
Imagem do site Recontaai.com.br

O Brasil é campeão no consumo de agrotóxicos; no Réveillon, não será diferente.

A prévia de inflação mensurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica (IBGE) apontou que o preço dos alimentos acumulou alta de 14,36% em doze meses. Porém, esse não tem sido o único problema dos brasileiros em relação à comida: o altíssimo uso de agrotóxicos no País pode comprometer a qualidade dos alimentos que vão à mesa dos brasileiros. E na ceia de final de ano, não será diferete.

400 agrotóxicos liberados

De acordo com o economista do Incra e professor universitário Gustavo Noronha, a discussão do uso de agrotóxicos no Brasil entrou definitivamente no debate público depois que o Dossiê ABRASCO apontou que além dos danos provocados pelo uso destes produtos, o País foi colocado como o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.

“Entre 2017 e 2020, o número de registros destes produtos no Ministério da Agricultura alcançou os maiores valores de toda a série histórica ultrapassando sempre o total de 400 registros, bem mais que os maiores valores anteriormente verificados, de 277 registros em 2016; e 203 em 2007”, apurou Noronha em suas pesquisas.

Os dados do Atlas do Espaço Rural lançado recentemente pelo IBGE mostram que a proporção de estabelecimentos que usam agrotóxicos subiu 22,9%.

Gustavo Noronha

A revolução verde

Contextualizando a situação, Noronha fala sobre o aumento do uso dos pesticidas. “Importante destacar que os agrotóxicos se popularizam no contexto da revolução verde. [revolução] Que combinou a difusão de uma série de novas tecnologias que permitiram um aumento sem precedentes da produção agrícola”, disse.

“Embora a população mundial tenha mais que dobrado ao longo dos últimos 50 anos, a produção de cereais triplicou com um aumento de apenas 30% da área plantada”, explicou o economista.

“Todavia, este aumento da produtividade e do rendimento agrícola não veio sem a produção de externalidades, tendo como uma das suas principais causas o aumento do uso de agrotóxicos”, pondera.

Danos ao meio ambiente

Apesar de auxiliar o aumento da produtividade, o elevado uso de agrotóxicos teve consequências negativas – ou, de acordo com os termos da economia, externalidades.

“A contaminação de todos os compartimentos ambientais provoca desequilíbrios nos ecossistemas. O solo perde fertilidade, a água é contaminada, poluentes persistentes se depositam na natureza em lugares muitas vezes distantes de onde foram utilizados os pesticidas”, elenca o economista.

Preocupações com a saúde

Além da questão ambiental, que já é seríssima, os agrotóxicos ainda causam impactos na saúde humana. “Embora não existam estudos detalhados sobre o impacto na saúde humana via consumo, os resíduos destes produtos em alimentos (muitas vezes acima do tolerável e de formulações proibidas) colocam em perigo toda a população”, afirma Noronha.

Entretanto, há uma série de pessoas atingidas diretamente pelos agrotóxicos, como os trabalhadores rurais. Além disso, o economista aponta também o risco de contaminação dos trabalhadores diretamente envolvidos no uso dos pesticidas, que não apenas existe como se estende à população da área em que os agrotóxicos são aplicados, via contaminação do ar, solo e água.

“Neste sentido, nos parece fundamental a discussão sobre minimizar, ou mesmo eliminar, os incentivos legais ao uso de agrotóxicos”, propõe o economista como solução.

Porém, uma só medida não basta. “A discussão sobre a redução destas externalidades deve envolver além de alterações na regulação, a proibição da pulverização, o banimento de determinados produtos, além de uma maior fiscalização das normativas existentes”, disse.

Há alternativa viável ao uso dos agrotóxicos?

Existem alternativas sim e há, inclusive, países que optaram por uma transição agroecológica, como a Índia e Cuba. E mesmo o Brasil teve ações nesse sentido.

“Foi lançada em 2012, pelo governo brasileiro, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), desenvolvida a partir do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo)”, disse Noronha.

“Infelizmente, a política pouco tem avançado desde seu lançamento ao contrário dos agrotóxicos que seguem com seus incentivos fiscais e com uma liberação cada vez mais acelerada do registro de novos produtos”, desabafa o especialista.