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Agricultura familiar: "Nossos produtos não têm preço, eles têm valor por carregar a nossa história"

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Um casal com 10 filhos em Bom Jesus (RN), morando em uma fazenda que não era deles e trabalhando para sobreviver. Qual a perspectiva para a vida desses filhos? Trabalhar junto com os pais para sustentar a casa. Mas para María Cícera Franco de Oliveira, hoje com 43 anos, a vida dos seus familiares tinha que ser diferente e ela ia trabalhar para mudar a vida dos irmãos.

"Meu pai tinha um pedaço de terra com quatro hectares próximo da fazenda onde a gente morava. Eu resolvi que eu ia trabalhar naquela terra, mas ninguém me apoiou. No primeiro dia, preparei a terra e comecei a plantar. Quando cheguei em casa, falei para minhas irmãs que elas precisavam ir lá para molhar. Elas começaram a ir lá e viram que aquilo funcionava", conta Cícera.

Imagem: Arquivo pessoal

A agricultora familiar lembra que na época seu pai ameaçava de vender a terra por não concordar que suas filhas estarem começando a trabalhar como agricultoras. Só que para crescer, a família precisava da ajuda de políticas públicas.

E foi em 2006 que Cícera conheceu o movimento sindical. A partir daí ela passou a entender como as políticas públicas podem beneficiar as pessoas que mais precisam. "Fomos plantando várias coisas na nossa terra e comecei a correr atrás de projetos públicos e logo conseguimos um sistema de irrigação", explica.

O negócio das irmãs foi crescendo e começou a inspirar as comunidades próximas. A comida começou a sobrar, pois a produção era maior do que eles consumiam em casa. Foi aí que Cícera viu a oportunidade de vender os produtos que elas produziam.

"Peguei uma moto e levei as hortaliças para vender em uma feira. Em uma hora vendi tudo. Peguei o dinheiro e entreguei nas mãos das minhas irmãs pra mostrar pra elas que elas podiam vender o que produziam e assim ter o próprio dinheiro. No domingo seguinte elas foram para a feira vender", lembra Cícera toda emocionada.

Com a produção aumentando cada dia mais, a família passou a vender as hortaliças para as escolas públicas e restaurantes populares por meio de programas governamentais. A renda das mulheres foi aumentando e fez com que elas conseguissem a tão sonhada casa própria através do Minha Casa, Minha Vida.

Imagem: Arquivo pessoal

A história de perseverança das mulheres da família Oliveira ganhou força e passou a ser contada nas escolas e também em outras comunidades da região. Segundo Cícera, o intuito era incentivar outros agricultores. "Eu queria passar o verdadeiro papel da agricultura na vida das pessoas, porque não é só pegar na enxada", explica a agricultora.

Hoje, Cícera faz parte da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Estado do Rio Grande do Norte (Fetraf-RN), do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Sintraf) de Bom Jesus (RN) e é presidenta a Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Potengi.

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I Feira Nordestina de Agricultura Familiar e Economia Solidária

À frente da Cooperativa, Cícera trabalha com 100 agricultores da região e incentiva a participação de mulheres na agricultura familiar. E foi a partir desse trabalho que o empreendimento de Cícera e suas irmãs foi selecionado para participar da I Feira Nordestina de Agricultura Familiar e Economia Solidária que acontece em Natal (RN), entre os dia 15 a 19 de junho.

Para Cícera, a Feira é tudo o que a região precisa. "É um incentivo para a comercialização dos nossos produtos. Estaremos na Feira com vários produtores da cooperativa. É um momento de muito conhecimento e que vai servir para divulgar o nosso trabalho", diz a agricultora.

A subsecretária de Programa do Consórcio Nordeste, Maria Fernanda Coelho, participou do lançamento da Feira e explicou que ela foi pensada no âmbito da câmara temática da agricultura familiar do Consórcio Nordeste. “Vai ser um momento de compartilhamento de ideias, de produção, vai permitir a troca de experiências, saberes e será uma grande confraternização com atividades culturais e de formação. Vai ser a festa da colheita”, disse.

A Feira irá receber 150 cooperativas e associações, 500 expositores e mais de 10 mil visitantes durante os cinco dias de evento que tem entrada gratuita.

O espaço é estratégico para a reafirmação da identidade cultural da região e divulgação de saberes e sabores que marcam e caracterizam o povo nordestino. A Feira contará com a cozinha Sabores da Terra e Festival Gastronômico, além de programação cultural com shows de artistas de destaque regional e nacional.