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22ª CNB: "Desestatizar não vai resolver a questão fiscal. Vamos perder instrumentos importantes, como os Bancos Públicos", aponta economista

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Imagem do site Recontaai.com.br

O segundo dia da 22ª Conferência Nacional dos Bancários (CNB) começou com o painel “Situação da economia no Brasil na pandemia e o que fazer no pós-pandemia”, que contou com a participação da economista e professora do Instituto de Economia da UFRJ, Esther Dweck.

A economista abriu o debate ressaltando que o Brasil já vinha em uma situação econômica ruim, mas com a pandemia o País vai amargar – em um cenário otimista – uma queda de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2020.

Esther explicou que a queda de 6,5% do PIB é em um cenário mais otimista. De acordo com ela, o País chegaria o fim deste ano com mais 8,2 milhões de pessoas sem emprego. Já em um cenário mais pessimista, com uma queda no PIB de 11%; 14,7 milhões de pessoas poderiam perder o emprego neste momento.

“Estamos em uma situação de uma queda de crescimento econômico, com uma queda muito forte da atividade econômica e as pessoas, ainda por cima, sentindo um aumento de preços naquela cesta que é relevante pra eles”, disse Esther na CNB.

Desemprego no Brasil

A situação do emprego no Brasil está ruim há muito tempo, gerando muito mais emprego informal do que formal. Com a pandemia, os trabalhadores informais foram os primeiros a perderem o emprego.

Esther disse que 6 milhões de pessoas que estavam na informalidade foram demitidas no início da pandemia. No universo dos trabalhadores formais, milhares foram amparados pela Medida Provisória nº 936, que permitiu que os contratos fossem suspensos ou tivesse redução de jornada trabalho.

Mesmo assim, o cenário é extremamente ruim. “Estamos com uma situação do mercado de trabalho onde 12 milhões de pessoas já perderam o emprego ou estão ameaçadas de serem demitidas”, disse a economista.

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Medidas durante a pandemia

Para Esther, o Governo Federal tomou algumas medidas para frear a crise causada pela pandemia, mas elas são muito lentas e muito aquém do que é necessário. A redução da taxa de juros – Selic – é dito pelo governo que é a principal política econômica pra recuperar a economia.

“Essa não é uma medida suficiente para a recuperação econômica. Estamos vendo a queda da Selic, mas ela não está repercutindo no aumento do financiamento para as pessoas, paras as famílias e para as empresas”, destacou.

Ao mostrar um gráfico com as diferentes crise econômicas brasileiras, Esther explicou que a projeção do mercado hoje é que em 2024, o Brasil voltará ao PIB que teve em 2014. “Ou seja, serão 10 anos perdidos da economia brasileira”, disse ao frisar que isso é uma expectativa otimista, pressupondo que irá ser feito algo para a economia se recuperar.

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A economista alertou que o governo está abaixando a taxa de juros, mas por outro lado, promove uma política fiscal extremamente grave e que vai comprometer muito fortemente a capacidade de recuperação da economia brasileira.

Agenda do Governo Federal

Esther mostrou a agenda do Governo Bolsonaro para o pós-pandemia. Dentre os vários problemas apresentados por ela, estão a manutenção do Teto de Gastos, as privatizações dos Bancos Públicos e a Reforma Trabalhista.

Sobre o Teto de Gastos, a economista lembra que no início de 2020 se falava muito que o País estava quebrado e não tinha dinheiro. “Quando veio a pandemia, todos os economistas falaram que o governo tinha dinheiro e que tinha que gastar. E de fato tinha dinheiro. O que impede de gastar é a falta de vontade política e a vontade de destruição das políticas sociais”, explicou Esther.

De acordo com ela, em 2020 foi permitido gastar além do teto, mas no próximo ano o governo já disse que vai voltar com o Teto de Gastos, e essa medida é a grande âncora fiscal.

Sobre as privatizações, Esther destacou na CNB que elas não são a solução para o País. “Desestatizar não vai resolver a questão fiscal. Isso pode inclusive agravar a situação, porque você vai perdendo instrumentos importantes, como os Bancos Públicos”.

Brasil está na contramão do mundo

A economista lembrou que a crise de 2008 foi um ensaio para essa grande crise que o mundo vive agora. Naquela época, diz ela, os governos gastaram, os Bancos Centrais entraram muito forte e se recuperou a Bolsa rapidamente.

“Mas a partir de 2010 todos os países começaram com as políticas contracionistas. E isso deu muito errado. A partir de 2012 nós temos um monte de artigos questionando todas essas medidas e mostrando que foram elas que fizeram com que a recuperação mundial fosse muito lenta”.

Desde 2019 alguns países começaram a mudar suas ações. Com a pandemia, muitos estão propondo grandes pacotes de mudanças e de atuação do Estado forte.

No entanto, o Brasil segue um movimento contrário, reduzindo o investimento do Estado. “Estamos indo em uma situação muito grave onde o governo quer cortar mais, mais, e mais. Nós precisamos é de uma política econômica inclusiva e sustentável”, alertou Esther.

Alternativas para o futuro do Brasil

Com a pandemia, o mundo está discutindo que esse sistema econômico que agrava as grandes desigualdades não pode continuar. De acordo com a economista, o Brasil precisa romper com esse ajuste fiscal autodestrutivo e apostar em um projeto social de crescimento para o Brasil.

“Um crescimento com transformação social, distribuição de renda e de riqueza; ampliação da oferta pública de serviços básicos – como educação e saúde -; readequação da estrutura produtiva; gerar emprego de qualidade e garantir o acesso universal à direitos básicos”, frisou na CNB.

Para tudo isso, é necessário uma alternativa de regime fiscal. Esther explicou que o primeiro passo é uma Reforma Tributária progressiva, taxando os mais ricos. Além disso, é necessário revogar a PEC 95 – que trata do Teto de Gastos – e também promover um novo Pacto Federativo.

“Se realmente queremos uma economia que seja para todos, que a gente possa resolver os problemas do nosso contrato social e que a gente possa recuperar a economia, a gente precisa que o estado atue. Então a gente precisa de uma grande mudança no regime fiscal brasileiro”, finalizou a economista na CNB.